Tem momentos em que encontro um silêncio muito grande. Longe daquela ansiedade que me atropela 20 horas por dia, esse silêncio me leva pra um lugar afastado, como se eu estivesse em cima de uma grande montanha. Totalmente em paz. No ônibus, na rua, no trabalho. As pessoas ficam lá, no lugar que eu as deixo ficar: longe, com seus computadores portáteis, smartphones e poros oleosos. É quando eu penso que o céu é tão grande e a gente fica aqui, preso na terra, com os pés que não conseguem subir mais do que um passo depois do outro. E as pessoas longe. E eu simplesmente não penso no tempo, nos deveres, nas contas, nos remédios, e não tenho vontade de falar. Tudo fica bem e eu queria manter isso por mais tempo.
Mas o sistema cai e é preciso comunicar os clientes. E tem de ser agora. E o silêncio vai embora, e a montanha vira areia. E eu volto a ouvir o barulho das pessoas.
O sistema acaba com meu dia.