quarta-feira, 5 de março de 2014

Os fragmentos, o ovo e o bolo.

Imagem do clipe de Somebody That I Used to Know, do Gotye

Houve um tempo em que eu me sentia responsável pelo mundo.

Escrever (de verdade) tem sido mais difícil.

A internet vai se transformar numa única e grande imagem.  Formada por todas as fotos postadas em redes sociais. Lado a lado, juntas, em uma única composição, vão formar... a imagem da Lady Gaga. Algo sem propósito, somente junções de fragmentos sem sentido fora de seu contexto real.

O abismo que sempre separou quem eu quero ser e quem eu sou parece estar ficando menor. Quem sabe logo bastará colocar uma tábua entre os dois lados e lá estarei: sendo, apenas.

É difícil, tem sido sofrido e definitivamente não é rápido, mas passar do controle total para a aceitação pura e simples é cada vez mais necessário.

Eu não controlo o mundo. Sorte a minha. Ou dele. Ou sua. Não sabemos ainda. Os estudos não foram conclusivos. Igual com ovo: um dia, ele é bom pra saúde. No outro, responsável por 47% dos casos de infarto e pressão alta. No outro, é um chocolate que embrulham e dão de presente fingindo comemorar alguma coisa religiosa.

Falar sobre mim é usar as palavras sempre, tanto, muito, preciso, quero, devo, não posso, muito, tanto, sempre, nunca, vou. Sempre.

Falar sobre mim é menos comum hoje. Todos têm sido tão egocêntricos. E eu descubro que isso me incomoda. Há tanto a se falar sobre o que há lá fora. E tem gente que só consegue falar relacionando o que há lá fora com o que há dentro de si. Talvez estejam certos e eu que perdi o bonde em algum momento. O bonde do selfie. É o carro... do selfie que tá passando. Fotos na praia, na rua, na chuva e na fazenda. É o selfie novinho, igual o de ontem. É o carro... do selfie que tá passando.

De vez em quando eu descubro que a vida não é uma listinha de to do things. Que é maior do que o que eu consegui fazer no final do dia ou da semana. Que ela vai embora rápido e a caixa de entrada vai estar sempre cheia.

Mas só de vez em quando, porque em geral estou me dedicando a fazer listas de coisas a fazer e depois, me dedicando a fazer as coisas, sofregamente. E depois, em riscá-las da lista, uma a uma. As que eu não consegui fazer, risco por raiva mesmo. Rabiscos e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Sinto falta do livro Os diários de Sylvia Plath que um dia vendi no sebo quando me peguei sem nenhum dinheiro e com muito orgulho pra pedir ajuda. 

Vender livros é uma coisa que me causa arrependimentos em 99% das vezes. Igual comprar tênis. Uma ótima ideia no momento. E uma amargura que dura meses, depois. 

Mas, bem, não se pode comer um bolo sem o perder (disse o Fernando Pessoa). É só fazer mais deles. Pronto, sem dramas.