sábado, 29 de novembro de 2014

No fim, não era questão der ser bom ou ruim

Existe o medo de não ser completo. De tudo o que foi feito e pensando e sentido, no fim, não alcançar um índice mínimo de importância ou satisfação. Tudo o que foi dedicado a um amor simplesmente não ser suficiente: as coisas belas acabarem como se chega ao fim de uma caixa de bombons e não se te mais o que fazer com a caixa e ela vai para o lixo reciclável, independente do trabalho que tenha sido criar a caixa, desenhar o formato, pintar, desenvolver a melhor embalagem e contratar funcionários para os trabalhos manuais e administrativos e um entregador dos produtos e caixas de supermercado para vendê-la. Independente de tudo, o seu ciclo chega ao fim e é isso e na há nada mais que se possa fazer a respeito.

Um dia chegar a certo ponto de uma grande jornada de trabalho – vinte anos na corporação e se perceber tão essencial para a continuidade da firma quanto uma catraca que, depois de virar e virar e virar para todo lado, não combina mais com o ambiente e a gestão, que passaram a ser modernas e clean e não comportam mais nada que lembre um passado remoto, por mais funcional que tenha sido por tanto tempo. É sempre hora de evoluir em algum lugar e de repente é ali e você não cabe mais naquele espaço, nem nada relacionado a você, nem seu modo de pensar e suas estratégias classificadas de “pouco imaginativas” por alguém com a metade da sua idade e o dobro da sua  sagacidade.

Criar um filho por trinta anos e descobrir que a vida deveria ter sido mais do que se preocupar com cada detalhe da vida de alguém que um dia vai fazer as malas para morar em Paris e se casar com uma pessoa que não come carne vermelha nem laticínios nem permite que se entre em casa de sapatos. Trinta anos de fadiga para se ter de tirar o sapato para entrar na casa do próprio filho e depois voltar pra casa vazia que não te acolhe bem porque você nunca pensou em si mesmo em primeiro lugar então tudo tem a cara de outra pessoa que não vai mais fazer uso de nenhuma comodidade criada especialmente pra ele e que agora não pode ser usada por você, como tentar se acomodar em uma cama que não é sua e ser cortada pela faca enquanto prepara a própria comida porque a cozinha não é sua e a casa não tem seu cheiro e tudo te expulsa dali e você se vê sem filho e sem casa e sem saber quem é aquela ali no espelho e de onde veio tanta marca de expressão e porque não usou mesmo o filtro solar.

Tenho inveja das pessoas que conseguem viver dia a dia. Um pouquinho por vez e estão satisfeitas com aquilo que lhes aconteceu naquele dia, naquele pequeno e simples e bonito dia. Que não sofrem imaginando o que poderá acontecer dali a duas horas ou trinta dias, dependendo de como a situação está. Das que separam o tempo livre para serem de fato, livres, sendo felizes e tendo prazer sem atinar pro sofrimento do mundo que a cada segundo pode ser maior e maior até soterrar a todos em uma grande explosão, que, na prática, talvez não aconteça e então vamos deixar por isso mesmo e ver um filme na TV e passear com as crianças e comer um doce de batata doce.

Queria ter uma capacidade de deixar de maquinar o tempo todo sobre o que pode nos ocorrer ou o que já nos ocorreu ou o que deveria ter, caramba, acontecido, e de que forma e quando e por quê. De não pensar que daqui a tantos anos tudo isso pode ter sido besteira e me ver olhando para fotos e tendo a certeza de que foi mesmo uma grande bobagem ter investido tanto tempo naquele trabalho ou no romance que depois se mostrou um desastre quando houve uma situação inesperada qualquer e as duas pessoas se deram conta de que as coisas de tornaram insustentáveis.

Queria conseguir sentir que cada pequeno passo é uma benção e que sendo ele seguido de outros 140 que formarão um caminho coerente ou não, faz sentido por si só e que mesmo que seja o último e a vida acabe no meio de uma festa em que você está contando sobre um filme que assistiu, dizendo a frase de um personagem e imitando os trejeitos dele e não consiga terminar por um mal súbito, que mesmo assim tudo terá sido válido e bom e era isso mesmo que havia para ser vivido. Que não precisava de encerramentos de ciclos, de conclusões incríveis e entendimentos metafísicos sobre cada detalhe absurdo da vida e da morte e do gosto do sorvete de Flocos. Que pode ser isso aí mesmo, isso aí que está acontecendo ou não acontecendo, esse azul do céu que agora é menos claro e depois vai ser escuro e depois claro de novo. Que é isso que se tem e no fim, não era questão der ser bom ou ruim ou de se classificar e julgar pessoas e acontecimentos, mas que simplesmente se é e se foi e isso foi, afinal, a sua vida.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Toda a vida

Foto retirada de: Ravishlondon.com

As pessoas e seus pesos na rua, quase consigo ver os balõezinhos com as preocupações. As que acordam às cinco da manhã e voltarão pra casa depois das dez da noite e moram longe e têm três filhos pequenos e nenhuma ajuda da família. As que acordam às seis para ir academia antes do trabalho e têm como meta perder 2,5 quilos de massa gorda em uma semana. As que compraram um carro vermelho e gostam de ouvir rock durante o trajeto de 15 sinaleiros e poucos quilômetros. As que não esperam mais nada da vida e têm olhos parados, secos, e que se assustam quando você dá um bom dia.

Elas continuam a acordar todos os dias e sair de casa para compromissos porque lhes disseram que a vida é isso mesmo: arcar com as consequências e lidar com coisas sérias. E ser sério e batalhar e nunca ceder ao mal estar da gripe. 

E elas aguentam desmandos e corrupção, engolem sapos e tentam dizer que isso ou aquilo está certo ou errado. Reclamam do preço da gasolina e gostariam de ajudar o pedinte que está na esquina mas dá medo de abrir o vidro do carro ou passar do mesmo lado da calçada. 

Preocupam-se com pequenas coisas e se arrependem. Esquecem de tirar a roupa do varal e maldizem a chuva das cinco e meia da tarde. Compram pão no domingo de noite e se ressentem da massa murcha em que ele se transforma na manhã seguinte.

Pedem umas às outras em casamento, se casam. Têm filhos sem saber se é isso mesmo que devem fazer. Tiram fotos e fazem festas de um ano, dois anos, três anos e depois reclamam que a criança quer um Iphone de presente. Dizem “no meu tempo” e se sentem velhas vendo os mais novos revirarem os olhos com tédio. 

Tentam se adaptar às mudanças do Detran, dos impostos, da sinalização e com a faixa exclusiva de ônibus que de um dia pro outro aparece na rua de casa. Desejam se aposentar o quanto antes, aí se lembram que quando estiver perto da aposentadoria estarão bem mais velhas e percebem que não tem porque desejar isso aos 25 anos. 

Erram na hora de escrever oje, muinto, intediada, dizem que uma pessoa não é descente quando querem dizer decente, emitem opiniões equivocadas sobre a política porque hoje é preciso ter qualquer opinião sobre tudo. Apelam para Nossa Senhora e viajam para conhecer o túmulo de Jesus e se sentem abençoadas com o nascimento de uma criança ou a cura de uma doença.

Pensam se deveriam falar com aquela pessoa especial e chamar para um cinema, pensam se aceitarão aquele convite para sair mais tarde. Se devem dizer que não, que já chega e é hora de cada um ir para seu lado. Cogitam se matar se forem abandonadas. Falam mal dos colegas de trabalho. Esperam uma promoção mesmo sem nunca ter pedido uma por falta de coragem. Pedem licença quando gostariam de pedir em namoro. Planejam falas e puxam assunto sobre o tempo.

Contam suas histórias para outras pessoas que têm outras histórias e as vidas acabam se misturando. Choram por mortes, fazem promessas por novos empregos, planejam iniciar uma rotina de exercícios físicos e incluir granola na dieta. Medem quanto o filho cresceu com marcas de lápis na parede da sala de casa. Acreditam em teorias da conspiração e escrevem comentários em letras maiúsculas em sites de notícias. Odeiam a Dilma e acham que o PT é a praga o Brasil. Simplificam raciocínios e não abrem mão de suas verdades absolutas. Jogam na loteria uma vez por mês e esquecem de conferir os bilhetes. 
Fritam ovos e jogam sal demais. Gostam de dar boa noite na hora do Jornal Nacional. Gostam de sentir a água na cabeça durante o banho e se afogam quando esquecem que não podem levantar o rosto e sentem o gosto da água quente entrando no nariz e saindo pela garganta.

Protegem as bolsas e carteiras de ladrões na rua, colocam senhas para entrar em casa, guardam o dinheiro todo no banco e usam a data de nascimento como senha de e-mail.

Indicam remédios para amigos porque funcionaram para o tio, indicam lojas de roupas, indicam restaurantes e destinos turísticos e depois dizem que você tem de ir. Falam que superaram os ex amores e falam mal dos pares atuais deles. Esquecem porque terminaram a última relação e sentem falta de coisas pequenas. Adotam a dieta da moda e contam que o shake faz perder 800 calorias por dia - pulando apenas três refeições a cada 24 horas. 

Confiam na memória do celular e perdem todos os contatos. Não confiam nos vizinhos porque um dia uma bicicleta foi roubada na garagem. Fazem terapia hormonal e teste de gravidez na mesma semana. Ficam horrorizadas com assassinatos e guerras e assaltos a mão armada no posto de gasolina. 

Atravessam a rua escrevendo uma mensagem no celular sem ver o ônibus amarelo em alta velocidade. 

E morrem sem terminar de digitar que aceitam o convite para jantar mais tarde - mas tem de ser depois das 20h porque têm aula de inglês antes. Apenas por distração. 

sábado, 31 de maio de 2014

Tensão pura e simples

Um dia aconteceu. Eu fiquei séria demais, preocupada demais, adulta demais. Quando era criança, não me lembro de ter pensado que seria uma pessoa tensa. Achava que aos 25 seria bem resolvida e feliz e teria uma vida nos eixos e um bom emprego e uma casa.

Aí eu viro uma pessoa tensa. Ei, olha lá, aquela não é a Gislaine? Imagina, a Gislaine que conheci tinha tempo para um sorriso e um café e uma palavra com estranhos. Essa aí nem olha para os lados e evita pessoas que não conhece.

(Acho tanta coisa sobre tudo e no final vejo que só posso ter razão sobre mim. E às vezes nem isso.)

Talvez tudo o que eu pense sobre o mundo esteja levemente equivocado. Pode ser que o ângulo pelo qual vejo as coisas esteja 134 graus para o lado errado.




terça-feira, 20 de maio de 2014

A paz

Tenho quase 30 anos e já não corro mais, dentro da minha mente, como corria há seis meses ou dois anos. Corro para trabalhar e dar conta de atividades diferentes, mas parece que dá tempo de pensar se é isso mesmo que eu quero fazer ou devo. Como se tivesse conquistado um espaço só meu em que paro, sento, olho pra paisagem, de cima, e fumo um cigarro com tranquilidade. Isso no meio de tudo o mais que acontece diariamente.

Tenho um espaço em que nada acontece, que não é abalado pelas mais fortes tempestades. É um centro que permanece calmo. Em alguns dias ele se espalha e eu consigo ficar mais tranquila, olhando os acontecimentos apenas como um ruído em volta dessa área calma.

Sempre quis ter um espaço - físico mesmo, em que pudesse olhar o mundo lá de longe. Quando eu morava em um prédio alto, lá em Ponta Grossa, era o que mais gostava de fazer sozinha. Olhar as pessoas lá embaixo, a nuvem mais em cima, os prédios e as luzes e todo o movimento, de longe. Sinto falta disso, hoje. Mas posso aproveitar o centro calmo da minha mente, ao menos.

Conquistei muita coisa. A paz é a mais importante delas. Claro que volta e meia me escapa. É igual bicho arisco, que não dá para prender ou se aproximar com intenção de controlar. É igual sonho lúcido. Quando se dá conta de que ele está ali e, uau, percebe que é hora de aproveitar, ele acaba.

Queria que ela ficasse pra sempre.






sábado, 26 de abril de 2014

Por isso

Fico triste quando descubro um blog de autor que escreve muito bem - mas já parou de escrever. Em... 2010.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ninguém sabe coisa nenhuma





 Parte I - Certezas

De repente você está lá, admirando uma pessoa por quem ela é ou o que ela faz. A criatura parece inteligente, então você decide que ela, definitivamente, sabe o que está fazendo - na vida, no amor, no trabalho, em algum aspecto relevante.Uau, como ela sabe conduzir a própria vida. Uma empresa. O país.

Mas tem um pequeno segredo aí, que ninguém nunca comenta e que eu levei anos pra descobrir: a maioria das pessoas NÃO FAZ A MENOR IDEIA DO QUE ESTÁ FAZENDO. No mundo. Com a própria vida. Com a vida do outro.

Não sabe se as coisas vão dar certo - seja a mudança de emprego ou aquela cirurgia nos quadris que terá de ser feita até o fim do ano. Até os chamados "tomadores de decisões", os grandes líderes - eles também não sabem muito não. Os pais? Pfff, menos ainda - criar filhos (dizem) é se dar conta de que o mapa de tudo o que se sabe ou não vale nada ou precisa ter a rota corrigida em ao menos 180 graus. 

Você pode, claro, estudar, ganhar experiência e se transformam no grande especialista em certos assuntos. Mas mesmo assim estará no eterno ciclo de tentativa e erro (ou especialistas não erram jamais?). E não vai se livrar fácil das dúvidas que orbitam em torno de cada decisão que precisa ser feita.


Então a questão é: ninguém tem certeza. De nada. O mundo é feito de subjeções, abstrações, incertezas, neblina e desvios.

Parte II - Fé em si mesmo
E mesmo assim, percebendo o tamanho da incerteza sobre o qual o universo se sustenta...

Você alimenta todos os dias uma imagem imaculada de pessoas à sua volta: aquele cara ali, tá vendo? Ele é foda. E aquele profissional? Putz, que homem sagaz. A tia Joaquina, essa sim tem inteligência emocional. O amigo de infância realmente sabe lidar com a vida. E essa admiração gera respeito. Você conclui: a pessoa sabe o que está fazendo, eu não faria melhor no lugar dela. 

Mas não é verdade. Você pode fazer, sim. 

Me dei conta de que muito do que admiramos nos outros somos capazes de realizar da mesma forma que eles – ou ainda melhor. Mas é muito fácil nos apegar a rótulos e aceitar que a capacidade do outro é sempre maior. E digo - em geral, NÃO É. 

Talvez você nunca tenha tentado fazer determinada coisa, nem ver do ponto de vista daquela pessoa, talvez não tenha passado pelas situações pelas quais ela passou e que a moldaram de certa forma, mas não é isso que faz ela ser melhor que você. 

Um dedo a mais de coragem e atitude, penso eu, é o que distancia aquele que cria daquele que se contenta em admirar a obra criada (ou seu autor).

Foi assim que deixei de colocar pessoas em pedestais. Todos os grandes santos que idolatrei caíram de cara no chão e viraram pessoinhas pequenas que erram, sentem medo e não sabem nada do dia de manhã - (um segredo: alguns não sabem nem conjugar verbos no futuro). 

Um dedo a mais de coragem e seremos todos incríveis. Vai por mim.

Tema livre

Quando a professora de redação tinha preguiça, chegava na sala e dizia: vocês vão fazer uma redação pra entregar no fim da aula.

- Qual o tema, professora?

- Tema livre. Escrevam sobre qualquer coisa, o que quiserem.

E eu me esforçava pra achar um tema, um ângulo, um motivo.

Na vida é igual. Às vezes tem um grande tema norteando os dias. Eles mudam, mas quase sempre tem um.

Quando ela vem e diz: é tema livre, eu simplesmente não sei muito o que fazer.

É tema livre, Gislaine. Se vira.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Os fragmentos, o ovo e o bolo.

Imagem do clipe de Somebody That I Used to Know, do Gotye

Houve um tempo em que eu me sentia responsável pelo mundo.

Escrever (de verdade) tem sido mais difícil.

A internet vai se transformar numa única e grande imagem.  Formada por todas as fotos postadas em redes sociais. Lado a lado, juntas, em uma única composição, vão formar... a imagem da Lady Gaga. Algo sem propósito, somente junções de fragmentos sem sentido fora de seu contexto real.

O abismo que sempre separou quem eu quero ser e quem eu sou parece estar ficando menor. Quem sabe logo bastará colocar uma tábua entre os dois lados e lá estarei: sendo, apenas.

É difícil, tem sido sofrido e definitivamente não é rápido, mas passar do controle total para a aceitação pura e simples é cada vez mais necessário.

Eu não controlo o mundo. Sorte a minha. Ou dele. Ou sua. Não sabemos ainda. Os estudos não foram conclusivos. Igual com ovo: um dia, ele é bom pra saúde. No outro, responsável por 47% dos casos de infarto e pressão alta. No outro, é um chocolate que embrulham e dão de presente fingindo comemorar alguma coisa religiosa.

Falar sobre mim é usar as palavras sempre, tanto, muito, preciso, quero, devo, não posso, muito, tanto, sempre, nunca, vou. Sempre.

Falar sobre mim é menos comum hoje. Todos têm sido tão egocêntricos. E eu descubro que isso me incomoda. Há tanto a se falar sobre o que há lá fora. E tem gente que só consegue falar relacionando o que há lá fora com o que há dentro de si. Talvez estejam certos e eu que perdi o bonde em algum momento. O bonde do selfie. É o carro... do selfie que tá passando. Fotos na praia, na rua, na chuva e na fazenda. É o selfie novinho, igual o de ontem. É o carro... do selfie que tá passando.

De vez em quando eu descubro que a vida não é uma listinha de to do things. Que é maior do que o que eu consegui fazer no final do dia ou da semana. Que ela vai embora rápido e a caixa de entrada vai estar sempre cheia.

Mas só de vez em quando, porque em geral estou me dedicando a fazer listas de coisas a fazer e depois, me dedicando a fazer as coisas, sofregamente. E depois, em riscá-las da lista, uma a uma. As que eu não consegui fazer, risco por raiva mesmo. Rabiscos e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Sinto falta do livro Os diários de Sylvia Plath que um dia vendi no sebo quando me peguei sem nenhum dinheiro e com muito orgulho pra pedir ajuda. 

Vender livros é uma coisa que me causa arrependimentos em 99% das vezes. Igual comprar tênis. Uma ótima ideia no momento. E uma amargura que dura meses, depois. 

Mas, bem, não se pode comer um bolo sem o perder (disse o Fernando Pessoa). É só fazer mais deles. Pronto, sem dramas.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ano novo, again.


Há muito menos obrigações na minha mente do que sempre existiu. Elas gritavam comigo: você TEM de fazer isso. É PRECISO. Fazer, ligar, ir até, falar, reclamar, escrever, cozinhar.

A obrigação está me deixando em paz. Ela aparece às vezes, julgando: você não fez? Mas a culpa acaba virando autocompreensão - eu não preciso fazer tudo. Nem ser tudo. Nem ser. Aliás, não preciso de coisa nenhuma, a não ser existir. (Dizem que até disso é possível se livrar, mas não é a pauta do dia.)

E eu deixei de me martirizar. Da garota que antes queria dar conta de tudo, passei a ser a que não quer dar conta de nada. Telefonemas, mensagens, festinhas, convenções sociais.

Talvez um pouco anti-social. Talvez um pouco fechada, diriam. 

Mas guardar essa energia pra mim tem feito muito bem. Darei um alô se você insistir muito. Se for essencial pra alegria ou vida de alguém.

Senão, ficarei por aqui, na minha. Jogando Candy Crush e vendo Breaking Bad abraçada com meu namorado, com um ventilador quase na cara, sentindo que o que tenho é até mais do que me basta.