Parte I - Certezas
De repente você está lá,
admirando uma pessoa por quem ela é ou o que ela faz. A criatura parece inteligente, então
você decide que ela, definitivamente, sabe o que está fazendo - na vida, no amor, no trabalho, em algum aspecto relevante.Uau, como ela sabe conduzir a própria vida. Uma empresa. O país.
Mas tem um pequeno segredo aí, que ninguém nunca comenta e que eu levei anos pra descobrir:
a maioria das pessoas NÃO FAZ A MENOR IDEIA DO QUE ESTÁ FAZENDO. No mundo. Com a própria vida. Com a vida do outro.
Não sabe
se as coisas vão dar certo - seja a mudança de emprego ou aquela cirurgia nos
quadris que terá de ser feita até o fim do ano. Até os chamados "tomadores de decisões", os grandes líderes - eles também não sabem muito não.
Os pais? Pfff, menos ainda - criar filhos (dizem) é se dar conta de que o mapa de tudo o que se sabe ou não vale nada ou precisa ter a rota corrigida em ao menos 180 graus.
Você pode, claro, estudar, ganhar experiência e se
transformam no grande especialista em certos assuntos. Mas mesmo assim estará no eterno ciclo de
tentativa e erro (ou especialistas não erram jamais?). E não vai se livrar fácil das dúvidas que orbitam em torno de cada decisão que precisa ser feita.
Então a questão é: ninguém tem certeza. De nada. O mundo é feito
de subjeções, abstrações, incertezas, neblina e desvios.
Parte II - Fé em si mesmo
E mesmo assim, percebendo o tamanho da incerteza sobre o qual o universo se sustenta...
Você alimenta todos os dias uma
imagem imaculada de pessoas à sua volta: aquele cara ali, tá vendo? Ele é foda. E aquele profissional? Putz, que homem sagaz. A tia Joaquina, essa sim tem inteligência emocional. O
amigo de infância realmente sabe lidar com a vida. E essa admiração gera respeito. Você conclui: a
pessoa sabe o que está fazendo, eu não faria melhor no lugar dela.
Mas não é verdade. Você pode fazer, sim.
Me dei conta de que muito do que admiramos nos outros somos capazes de realizar da mesma forma que eles – ou ainda melhor. Mas é muito fácil nos apegar a rótulos e aceitar que a capacidade do outro é sempre maior. E digo - em geral, NÃO É.
Talvez você nunca tenha tentado fazer determinada coisa, nem ver do ponto de vista daquela pessoa, talvez não tenha passado pelas situações pelas quais ela passou e que a moldaram de certa forma, mas não é isso que faz ela ser melhor que você.
Um dedo a mais de coragem e atitude, penso eu, é o que distancia aquele que cria daquele que se contenta em admirar a obra criada (ou seu autor).
Foi assim que deixei de colocar pessoas
em pedestais. Todos
os grandes santos que idolatrei caíram de cara no chão e viraram pessoinhas
pequenas que erram, sentem medo e não sabem nada do dia de manhã - (um segredo: alguns não sabem nem conjugar verbos no futuro).
Um dedo a mais de coragem e seremos todos incríveis. Vai por mim.
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