domingo, 13 de maio de 2012

Filmes online, escada andaime e suicídio

Foto: Filme "Noivo neurótico, noiva nervosa", de Woody Allen

Por que a tecnologia gera necessidades infinitas de consumo? E por que eu deixo que isso afete a minha, a sua e a vida do meu cachorro?

É que... tenho filmes online para assistir até morrer aos 83 anos. "Uau, olha só, tem de tudo no catálogo!" Mas não tenho uma TV grande que me dê uma imagem digna que me faça dizer "ow, isso é entretenimento de qualidade". E se eu comprar uma TV grande, terei de comprar uma estante pra ela. Com a estante e a TV na sala, agora é a vez de precisar de mais espaço. Então eu vou para um apartamento mais espaçoso para ter mais conforto e viver melhor. Lá no aparamento novo, que é maior e melhor, fica faltando um sofá decente, de preferência daqueles que dá para puxar e te fazer ver TV deitado. Ok, já tenho uma TV, uma estante, um apartamento novo e um sofá. Acho que agora posso colocar um quadro grande e bonito na parede, sim, aquele que comprei pela internet há anos e não sabia bem onde pendurar. Mas meu apartamento tem um pé direito de quatro metros... Vou precisar de... uma escada andaime!!!! Isso, aquela que dá pra comprar na Polishop, e, veja que bom, posso usar ela pra regar samambaias no teto, para limpar a calha no telhado (opa, é um apartamento) e até para pendurar cabides e assim, jogar fora meu guarda-roupa.

De repente tenho um surto de lucidez: ei, eu não queria nada disso, essa escada andaime, meu Deus, o que vou fazer com ela, além de guardar de maneira prática debaixo da cama?

A vida era mais simples, barata e normal quando eu precisava ir até a locadora e escolher bem o filme porque pagar R$ 6,50 por um lançamento, bem, tinha de valer a pena. Então eu andava algumas quadras e conversava com outros clientes sobre filmes que já viram e meu cachorro aproveitava a caminhada pra fazer xixi nos postes e socializar com as cadelinhas do bairro e eu tomava ar fresco no final da noite enquanto decidia o que iria comer enquanto veria o próximo filme.

Agora eu só preciso dar dois cliques e deitar no meu lindo e confortável sofá, mas fico me lembrando que espaços muito altos me dão medo e o teto do meu apartamento, que é terrivelmente alto, me desconcentra totalmente. E a escada andaime, que nunca mais tirei do lugar, está encostada no canto pra que seja mais prático regar as samambaias, e elas, as samambaias, estão tão perto da janela que, quando olho pro cenário à minha volta e me lembro que meu cachorro faz xixi todos os dias no lindo e confortável sofá porque eu não saio mais com ele, já que tenho milhares de filmes sem precisar ir à locadora, bem, tudo isso  me faz ter vontade de usar de fato a escada andaime para algo digno: voar de cima do décimo quinto andar.

domingo, 6 de maio de 2012

"Morrer enquanto corro" ou "sou tão menos hoje..."

Você já teve a impressão de ter sido "mais" em algum momento do seu passado? Tenho uma impressão, de tempos em tempos, que já fui mais interessante, mais criativa e que usava melhor meu potencial. Tenho textos meus que leio e penso: uau, eu escrevi isso? Talvez eu estivesse estudando ou trabalhando mais (sem dúvida), mas o caso é que eu me expressava, ousava, corria e não tinha medo de quase nada.

Será que é isso que chamam de envelhecer? Ser menos, ainda que poucas pessoas ou ninguém note? O espelho nem mostra essas sutilezas, só uma ou outra marca que logo vai virar ruga, uns poros mais abertos, mas nada que alguns dinheiros em uma clínica de estética não resolva. Mas e o "ser menos"? Quem resolve? Talvez seja isso mesmo, ir perdendo sues pedaços pelo caminho, quando se vê, nossa, tenho só meus dedos e um pulso sem força. 

Vejamos. Se eu exagero em tudo e minha velocidade é maior do que a maioria das pessoas, se faço rápido, enjoo rápido, desisto rápido e recomeço, o tempo todo, e se nisso aplico todas as minhas forças, pode ser que minha vida também acabe mais rápido. Que um dia, aos trinta e dois, eu acorde sem energia nenhuma. Causa mortis: excesso de velocidade.

Ou não.