domingo, 24 de julho de 2011

A vida como música

Gosto de metáforas e comparações: a vida é como música. Cada pessoa tem a sua, algumas têm um refrão que se repete e se repete. Lembra de como as músicas não tinham final nos anos 80? Elas terminavam com o volume abaixando enquanto a banda repetia o refrão ou os versos finais, e repetiam, até baixar tudo. Agora as músicas têm ponto final.

Se a minha vida fosse uma música, e é, acredito muitas vezes, teria um refrão repetitivo mais ou menos desse jeito:

Tenho que ir; tem que fazer
Vou terminar, devia de ter
Preciso, preciso, vou ter de fazer

Mesmo com o planeta girando, com novos valores, ídolos, noções de tempo e um universo diferente que nasce todos os dias pelas ruas e na vida das pessoas, continuo parada nesse refrão. É verdade que os versos mudam em alguns períodos, com ritmo mais ou menos acelerado, um baixo no fundo pra deixar a melodia mais sofisticada, uma guitarra solo nos momentos mais nervosos. E aí volta o refrão.

Preciso, tenho, devia. Três palavras que gravitam em torno de mim todos os dias.

Vou comprar um mata-moscas.

"Como seria melhor se não houvesse refrão nenhum", diz Ludov em "Princesa".



terça-feira, 19 de julho de 2011

A dama e o xadrez

Diferente da novela e do filme, na vida não tem aquela linha forte que separa o bem do mal. Pessoas boas de pessoas ruins, gente legal de sangue sugas, joio do trigo.

Se houvesse uma separação tão exata quanto há no mapa da África haveria menos confusão.

Porque eu tenho reais dificuldades de identificar quem tem más intenções. A princípio, e durante um bom tempo, pra mim todas as pessoas são sinceras. E querem todas o bem umas das outras. É como se eu não tivesse passado do jardim de infância, quando fiquei muito chocada ao ver uma menina com raiva morder o braço de outra. "Como assim você consegue machucar uma pessoa?"

E é assim que funciona: meu sensor pra detectar manipulações não existe. Ele até tenta soar, mas nessa hora toca "All you need is love", o céu fica azul com passarinhos e é como se os segundos de lucidez nunca tivessem existido.

Tenho problemas em identificar atitudes de outros que possam me prejudicar e que, mais do que isso, são feitas com esse propósito. E a mágoa que entra rápido no meu sangue e me envenena sai tão rápido quanto entrou, é só eu respirar com calma, 1, 2, 3 e já passou.

Me falta malícia, é verdade. Capacidade de enxergar os jogos que todo mundo joga o tempo todo, perceber quando estão me empurrando duas casas à frente porque alguém arremessou os dados por mim. Caio na casinha que diz para passar a vez, ficar uma rodada sem jogar. E de novo, e de novo.

No fim são todos peões assustados com medo de pular no quadrado errado, aquele que é feito de gelo fino, quebra e te deixa congelando na água.

A propósito, eu já falei que tenho um São Bernardo pra doar?