Não pergunte quem disse ou onde está registrado, mas faz todo sentido: o modo de levar a vida tem muito a ver com a capacidade de colocar os fatos em perspectiva. É a diferença entre ver a vida como uma fotografia, onde só existe aquela cena, isolada de um contexto, ou de ver como um filme, onde cada cena contribui pra que a outra aconteça e tudo, tudo tem uma ligação.
O Bira, um puta professor de literatura brasileira que tive no curso de Letras dizia que em um bom livro, quando uma espingarda aparece pendurada na parede da casa de um personagem no início da história, ela tem de ser usada em algum momento dessa história, até o final do livro. Se algum elemento aparece gratuitamente, perdido, fora do contexto, é porque o livro não é assim tão bom. Na minha vida também tem sido assim. Aparecem detalhes, pessoas, situações que acabam sempre provando que até os segundos que me atraso ao sair de caso têm razão de ser.
E aprendo aos poucos a ver a vida como um filme. Uma ou outra cena, é verdade, me causa arrepio e dá vontade de gritar pelo pequeno pânico que meu estômago sente em alguns segundos. Mas passa. E mesmo quando acho que é só uma foto ruim, mal tirada, com uma paisagem ou companhia que não ajudam, ainda assim consigo ver a cena seguinte, as possibilidades das cenas seguintes. Colecionar fotos ruins também tem lá suas vantagens. Uma coleção de erros, defeitos e coisinhas estragadas. E monta um pequeno mural, o mural dos erros. Porque você consegue, se quiser, separar os seus dias por categorias. E isso é ótimo.
Adoro categorizar. Separar os fatos de acordo com temas, sensações, conseqüências.
Hoje fez um sol gostoso e o vento quente me fez lembrar dias de verão. Me fez lembrar tudo o que já senti em tempos assim. E, devo dizer, é tudo tão diferente hoje. Diferente pra melhor. Com mais de tudo, um pouco mais de pequenos temperos que fazem tanta diferença, tanta...