segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Escrever, amar bichos


Um dia ele disse: eu não quero virar um texto escrito no seu blog. Ou: você sabe que eu gosto de cachorros, né?
Algumas frases são comuns aos meus namorados ou pretendentes a. “Você sabe que eu gosto de cachorro” é uma delas. Eles precisam sempre me explicar que não são malucos como eu para conversar com bichos nos portões de casas desconhecidas, que não compram coxinhas nas esquinas pra dar pra cachorro de terminal, que não passam a mão em bicho de rua, mas que, sim, gostam de cachorro. Por mais que não os tenham, por mais que o último tenha sido doado porque “não tinha onde deixar na casa nova”, por mais que eles não pudessem entrar na sala e deitar no tapete e por mais que não pudessem pular no colo dos donos: Rex, vai deitar.
O outro receio constante é de mulher que escreve, porque mulher que escreve pode escrever o que quiser e a graça é que ninguém vai contestar, contestar o que se metade pode ser mentira e a outra metade pode ser inventada lá dentro dos sonhos? Mas invariavelmente vem um “aquilo era pra mim, não era?”, mesmo quando nunca foi. E quando é na verdade não é tão fácil de perceber, mas é fácil de tentar achar algum significado em palavras ali, tão expostas. Porque mulher que escreve tem sempre uma dor, uma alegria e uma vontade, todas presas no mesmo quartinho sem janelas querendo aparecer, dizendo: oi, estamos aqui e temos lápis de cor pra pintar o que quisermos. Pode ser uma história de menina pequena, de moça, de mulher velha, de barata, de sapato, de um homem que passa carregando baldes para vender no sinal. 

E então essas frases que são comuns unem as pessoas, mas talvez não signifique que elas sejam iguais ou que façam coisas iguais. Talvez signifique que vêem em mim coisas parecidas, as coisas que eu posso ou gosto de mostrar, as coisas mais fáceis: ela escreve e adora bichos. E isso é simples e me faz feliz, incomodando algumas pessoas e alegrando outras, mas principalmente, me fazendo feliz. Simples, bem simples. 

Um comentário:

  1. "Porque mulher que escreve tem sempre uma dor, uma alegria e uma vontade, todas presas no mesmo quartinho sem janelas querendo aparecer, dizendo: oi, estamos aqui e temos lápis de cor pra pintar o que quisermos"

    Adoro sua forma de contar as coisas, Gi! Feliz Ano-Novo!

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