Não as tenho. Admiro quem sabe o que quer, onde quer chegar, o que esperar do futuro, o que fazer amanhã cedo. Eu não sei. Mesmo quando tinha uma programação diária: acordar, pegar ônibus, trabalhar, almoçar, trabalhar, ir para casa, descansar. Isso sempre me pareceu meio automático demais. Fazia por que... é o que se faz por aí, certo?
A verdade é que sempre senti que a vida tem um propósito bem maior do que isso: casa, trabalho, contas, logística comercial e humana. Eu não tenho essas definições claras em minha mente. Mais que isso: não são parte do meu coração. Não sei exatamente o que quero fazer.
Quando pequena, sempre que me perguntavam o que queria ser, respondia: jornalista. Não sei bem de onde veio a certeza, mas a alimentei desde então, dei a ela conhecimentos e condições de crescer e se tornar uma profissão para mim. Mas "jornalista" é apenas uma função, um trabalho. Há tanto mais a se fazer e se desejar ser.
Mas eu fico parada em um cruzamento cheio de interseções: o que deveria querer, o que acho que sou, o que sinto, o que poderia ser...
O que sinto? Que a vida é sensacional demais pra eu ficar em um escritório lidando com papéis e burocracias. Que há pessoas e sensações únicas que merecem mais dedicação. Que o espírito é maior do que qualquer vocação profissional. Que estou parada como um carro que tem combustível e não sabe para onder ir.
Eu sei o que me comove. Mas ainda me falta o gatilho que me ajude a correr, como uma bala, para o que quero. E então?
Você, você sabe o que quer? Bem, talvez não precisemos de definições. Só não quero passar a vida me enganando e trabalhando para favorecer interesses que não estão de acordo com o que sinto. O potencial, é possível que o desperdicemos por uma vida toda. Devíamos aprender, já na escola, como seguir o coração, como transformar em ação o sentimento. Eu confesso: não sei.
Enquanto isso, faço uma coisa aqui e outra ali. Um pouco sem foco, um pouco sem objetivo. Um pouco de tudo.
Ah, essa música me comove.