Sim, eu estou tão cansada. Mas não é disso que vou falar. Ou
é? Poderia. Mas não, não é. Não é? É, não é.
Hum.
Identidade. Não a de papel, não a de plástico, com seu nome
e assinatura. A que você carrega aí dentro e te ajuda a definir quem é. E quem
não é. Sabia que às vezes você acaba perdendo isso aí?
Sim, você perde. E pode ser por tantos e tão inexplicáveis
motivos...
Você perde quando deixa de fazer o que gosta. De ouvir suas
músicas, ver seus filmes, ir aos seus lugares preferidos. E, opa, do que eu
gostava, mesmo? E também pode deixar de fazer o que gosta por muitos e muitos
motivos. Dedicação excessiva ao trabalho ou a qualquer outra coisa. Cansaço.
Novos amigos. Problemas na vida. Casamentos. Comparações. Desilusões. É, tem
uma pá de coisas que podem te fazer abandonar o que já foi – e o que gostava de
ser.
E olhe, ninguém te pede, te manda: ei, deixe de ser quem é. Passe
aqui pra esse lado, veja essas outras coisas, outros jeitos, outras visões, que
tão mais legais que são. Não. É natural. Quando vê, já está lá do outro lado,
em outro continente. E tem tantas milhas em um oceano tão grande que você tem
de percorrer pra voltar. Voltar a ser quem era, quem sempre gostou de ser.
Lá do outro lado tem um corpo que espera a alma, a alma que
está andando pra todo lado e, distraída, assobiava esfregando os pés na areia
branca. E aí a alma se dá conta que só assobiar e andar pela areia, bem, não é
a praia dela. A praia dela é mais consistente. A areia talvez não seja tão
branca, mas é mais firme. O céu, nem tão azul, mas o tempo é mais estável. E
tem um lindo pôr-do-sol ao som de Gal Costa.
Perder a identidade pode acontecer com qualquer um. Uma
comparação com outra pessoa e pronto. Quem é você, garota? Quem você era,
mesmo?
A identidade está tão dentro de pequenas coisas... Abrir mão
de hábitos ou atitudes, ninguém te pede isso. Você faz porque quer. Porque não
conseguiu evitar. Porque mudou o desenho do quebra-cabeça, mudou as cores, e de
repente não lembrou mais como era o outro cenário. Era montanha? Ou era um
parque? Também, cinco mil peças...
Uau.
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