Em última análise, é preciso escrever para não adoecer.
2013 tem se mostrado um ano de merda. E eu começo um texto
com um número mesmo sabendo que é errado. Talvez porque 2012 foi um período
incrível pra mim, talvez porque eu sempre tenha sido supersticiosa, talvez
porque eu tenha me iludido tremendamente nos últimos doze meses, 2013 se
transformou em um prenúncio de coisas ruins.
Os acontecimentos, pequenos ou grandes, estão sendo ruins.
As idéias, os encontros, as expectativas, os dias. E a falta de vontade, os
problemas de saúde, as mancadas, o stress, a negatividade. Tudo bem excessivo.
E tudo isso é só janeiro. Então eu fico me esforçando pra me
convencer de que é só uma impressão. Que é uma espécie de TPM fora de época, de
inferno astral pós final de mundo que não houve.
Mas não me convenço.
Sabe aquela alegria e positividade e empolgação e ânimo pra
viver o que a vida apresentar, de dar a cara a tapa, enfrentar, mudar, ir em
frente? Eu tinha. Você que lê - e os que não lêem também, todos certamente concordam.
Não tenho mais.
Eu tenho: medo, vulnerabilidade, medo, stress, insegurança,
irritabilidade, vontade de gritar e sair correndo em uma estrada que não tem
fim, em um tempo que não passa, medo.
O lance da mudança, por exemplo. Sempre fui a favor. Eu mudo.
De roupa de cama, ideia, vontade, cidade, emprego, namorado, endereço, cidade,
passatempo. Eu era assim. Agora tenho medo. Não sei se consigo mais lidar com
tantas mudanças, essas que eu mesma crio, essas que imponho a mim mesma. De
repente eu penso: ah é? Eu não preciso disso. Posso mudar. E, depois: ui, será
mesmo que posso? Será que consigo? Será que ainda consigo?
E fico cansada. A canseira de uma vida toda, sabe? E eu não
tenho nem trinta anos.
Na primeira semana do ano fiquei com a nítida impressão de
que 2012 foi um ano ótimo porque foi cheio de ilusões, fantasias, coisas que eu
tanto precisava há muito tempo. Que talvez seja um ano que nunca mais se
repita. E que em 2013 as coisas reais estão batendo à minha porta: ei, não era
bem assim. Ei, olhe bem, olhe direito, enxergue o que você não queria enxergar.
Está tudo aí, você é que deixou na prateleira menos visível.
E o fato de ser um livro aberto também não ajuda muito. Fica
evidente quando estou bem, mal, irritada, decepcionada, com vontade de mandar
tomar no cú. E quando estou apaixonada, feliz, nas nuvens. É tudo muito
transparente e eu não consigo evitar. Perco pontos em relação a quem consegue
se manter neutro, frio, no mesmo lugar. Perco pontos com essa disponibilidade
de contar o que sinto, o que me acontece. Sente-se ao meu lado na praça e converse comigo dez minutos. Eu te conto o que aconteceu desde que acordei, como foi levar o Floco pra passear e o que vi na esquina. Vire meu amigo no
trabalho. Eu conto o que me aflige. Se me convencer que é amigo, conto até
quanto ganho. Mostre preocupação comigo e te falo da última vez que fui parar
num hospital.
Eu falo. Como meu avô, que na fila do banco dizia que ia
tirar o salário do filho dependente, que morava no bairro tal, que tinha a esposa
doente, que era evangélico. Meu avô falava e confiava em todos, e tanto, a
ponto de ser passado pra trás muitas vezes. Por desconhecidos, por gente mal
intencionada e, claro, por parentes.
Na última entrevista de emprego que fiz, na hora de colocar
três defeitos meus, céus, que dificuldade. Depois de alguns minutos pensando, o
terceiro ficou bem óbvio: ingenuidade.
Mas a gente só acredita mesmo é no que quer acreditar.
E aí, bem, eu acabei parando de escrever. E acho que escrever é
fundamental, essencial, vital. Sempre me fez um bem e acaba fazendo bem pra
quem me lê, já que me gosta, senão não leria. E eu parei. É sempre um sinal de
que algo está desequilibrado.
Minha irmã mais velha diz sempre que quando meu guarda-roupa
está arrumado, estou apaixonada. Eu diria que quando paro de escrever, tem algo
errado. Tem algo errado, algo errado, algo errado.
Bem, em épocas de redes sociais, as coisas ficam presas ali,
a gente achando que ta falando pro mundo e tá mesmo falando pra três ou quatro que vão
ler agora e esquecer dali a dois minutos. É uma competição desenfreada com
fotos e frases e animais bonitinhos e indiretas pros amigos que, olha, não agüento. E não agüento com trema, mesmo.
E tudo vai embora na linha do tempo. Está lá, mas lá em
algum lugar que ninguém sabe.
O blog acaba sendo um ponto fixo, um lugar onde estou. Onde
sou, seja lá como esteja, sempre sou. Eu estou aqui. Eu sou isso que está aqui.
Aliás, você deveria tentar, também.
Mas é isso. Em última análise, escrevo para não adoecer. A
frase original é do Freud: é preciso amar para não adoecer. Amar, amar, amar,
bem, todos nascem prontos pra isso. Não quero amar para não adoecer. Quero
escrever. Hoje, amanhã, depois.
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