Ficar parada, sem trabalhar, para ela, era como estar no meio de uma grande corrida, com corredores desesperados, sem se mexer. Só olhando enquanto o mundo corre ao seu redor. E as pessoas esbarram nela: “Fica pelo caminho atrapalhando os outros, veja se pode uma coisa dessas”. E os coelhos brancos, com seus fraques e relógios estão sempre atrasados em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Eles ficam satisfeitos, de vez em quando, ao conseguir chegar pontualmente ao trabalho. “Olha que legal, cheguei dez minutos mais cedo hoje, quer dizer que tenho tempo de respirar antes de receber um milhão de tarefas que não terei condições de cumprir hoje e que me farão dormir mal de noite e me farão chegar atrasada de novo amanhã, quando terei mais duzentas e trinta tarefas que não cumprirei porque se elas forem cumpridas, minha missão acaba aqui. E ainda sou jovem para morrer”.
Caixa alta, por exemplo. Não entendia porque as pessoas, ao escreverem em cadernos ou computadores ou recados para a empregada ou em letreiros de loja se davam ao direito de usar a letra maiúscula onde ela não era necessária. “Comunicamos os Funcionários que nesta Sexta-feira não haverá Expediente por conta da manutenção dos computadores da Empresa”. Quem disse que a pessoa poderia escrever Expediente em caixa alta? E aquelas que acham que os dias da semana têm de começar com letra maiúscula? É como se dessem uma grande importância a algumas palavras. Como rainhas que olham para seus súditos por cima, lá no alto, no castelo. E você pode dizer: não, não é com letra maiúscula. Mas depois virão outros anúncios, outros parágrafos, outras linhas com palavras que mandam nas outras palavras. E ninguém sabe por que. Simplesmente porque parecem ser palavras que precisam ser contempladas, idolatradas. Sexta-feira. Do alto de sua altíssima importância e de sua bondade de compartilhar a existência com as míseras outras, como sapato, cruzadinha ou blitz.