quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Silêncio: a cidade só quer respirar


A madrugada continua tendo aquela calma que me faz sentir. Nessas poucas horas Curitiba para, que é uma cidade que para sim. A Visconde de Guarapuava não tem nenhum carro às três e meia da manhã. As pessoas que se apressam ao meio dia, que suam esperando o semáforo abrir às quatorze horas e que esbarram em outras e pedem desculpas às 17h não estão mais lá às três e meia da manhã. Já foram embora, entraram nos ônibus do Terminal Guadalupe, compraram o refrigerante que tomaram vendo televisão antes de dormir. E estão em casa. Outras, sem casa, na rua. Mas paradas. Não andam a essas horas. Assim, a avenida, grande e cheia de luz, fica vazia de vida. O asfalto, feliz, descansa. E sente a temperatura mudar, grau a grau, até dar nove horas e o sol queimar ele novamente, até os pneus passarem, pouco gentis, duros, sem dar a ele tempo de respirar.

O Jardim Botânico de noite fica vermelho. Sim, a iluminação faz com que ele pareça uma flor estranha, daquelas que não sei o nome, talvez gérbera, três cúpulas vermelhas lá longe. Lá as flores e as outras plantas também dormem, que precisam estar bonitas para que as visitas do dia seguinte se encantem com elas. E digam que Curitiba é uma cidade linda. Mesmo não sendo tanto assim. Ou sendo só de madrugada, não sei ao certo.

Quando as pessoas dormem sinto que a cidade respira. Uma respiração pesada no início, mas que traz alívio e depois se torna mais leve. A cidade começa a dormir quando as pessoas começam a acordar. Quando ela se acostumou com o silêncio, o barulho já voltou a acontecer. As notícias são dadas com ares de grande importância. Novas mortes, brigas em boates, políticos metidos em escândalos, matérias frias sobre a troca de presentes depois do Dia das Crianças. Receitas culinárias em programas matinais. Capítulos antigos de novela reprisada gravada em um tempo em que nada disso ainda havia acontecido. Como era antes, será? Eu sabia, eu vivi aquela época. Mas ela parece distante. Depois de acordar, dormir, acordar e ver a cidade respirar, depois de ela se ressentir dos passos brutos que acompanha sobre si mesma aquele tempo me parece ter acontecido há muitas décadas. E talvez tenha sido assim. Então respiro, ouço o silêncio, presto atenção aos minutos, um após o outro que sem barulho se sucedem. E são marcados em relógios que devem despertar em algumas horas. Pra acordar pessoas que têm muitos compromissos e não podem se dar ao luxo de ouvir o silêncio.

Eu posso. Então fico aqui e o faço.

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