Encontrei esse texto meu em um blog coletivo - Nosso Garfo de Cada Dia do qual fiz parte em 2006. Mais um com cara de "nem te ligo, tristeza". Gosto deles, formam uma série interessante.
Igual unitário
Gislaine Bueno
Gislaine Bueno
...Aliás, ontem me disseram adeus. Eu disse "até logo". Com cara de quem perdeu o trem. E a viagem. E ficou em casa, e tirou as pilhas do relógio. Eu pensei que a minha solidão fosse diferente. Mas ela me iguala. À você e à eles. Todos os eles que caminham por aí. Trazem em pacotinhos de pão as mesmas frustrações. Empurram portas giratórias. Tomam comprimidos coloridos pra doenças não-específicas.
Eu achei que havia algo de diferente nas minhas ações. Talvez houvesse um pingo de singularidade no conjunto de palavras, atitudes, silêncios. Não havia. A ilusão maior, e que move, é pensar que a sua vida daria uma grande história. Um romance? Um filme, tendo bossa nova como trilha sonora? E uma atriz fumando em um congestionamento, com cara de "eu sou cool"?
Alguns se conformarão ao se identificar com personagens da TV.
Mas a maioria das vidas não é capaz de preencher uma página de jornal. Destinam-se apenas à duas linhas, no obituário. Com erros na grafia de seus nomes. Valas comuns. Trajetos quase idênticos.
A minha solidão é como a do homem dormindo na calçada, como a da senhora na lojinha de costura, como a do rapaz que frequenta as altas rodas da sociedade e tem um grande círculo de relações.
Girando sozinho.
Os fins nos igualam. A morte, o adeus, o "não dá mais", o tchauzinho pro carro antes da viagem. Sentimentos me igualam. E o roteiro é universal. Com os diálogos previstos após dois segundos de olhar cabisbaixo e três segundos antes do abraço. Com a sequência exata de frases ditas e hesitações. As palavras de consolo são iguais. Votos de felicidade, tais e quais.
Então você entra na Casa dos Espelhos. E não acha diferença entre o que é e o que vê. Pensa em pedir de volta o dinheiro da entrada. Mas o cartaz, escrito ao contrário, diz: "a interpretação faz parte da prova".
O sentir-se só é tão igual, passei a pensar que ele nos unia. Que nada, ele apenas torna comum.
Eu achei que havia algo de diferente nas minhas ações. Talvez houvesse um pingo de singularidade no conjunto de palavras, atitudes, silêncios. Não havia. A ilusão maior, e que move, é pensar que a sua vida daria uma grande história. Um romance? Um filme, tendo bossa nova como trilha sonora? E uma atriz fumando em um congestionamento, com cara de "eu sou cool"?
Alguns se conformarão ao se identificar com personagens da TV.
Mas a maioria das vidas não é capaz de preencher uma página de jornal. Destinam-se apenas à duas linhas, no obituário. Com erros na grafia de seus nomes. Valas comuns. Trajetos quase idênticos.
A minha solidão é como a do homem dormindo na calçada, como a da senhora na lojinha de costura, como a do rapaz que frequenta as altas rodas da sociedade e tem um grande círculo de relações.
Girando sozinho.
Os fins nos igualam. A morte, o adeus, o "não dá mais", o tchauzinho pro carro antes da viagem. Sentimentos me igualam. E o roteiro é universal. Com os diálogos previstos após dois segundos de olhar cabisbaixo e três segundos antes do abraço. Com a sequência exata de frases ditas e hesitações. As palavras de consolo são iguais. Votos de felicidade, tais e quais.
Então você entra na Casa dos Espelhos. E não acha diferença entre o que é e o que vê. Pensa em pedir de volta o dinheiro da entrada. Mas o cartaz, escrito ao contrário, diz: "a interpretação faz parte da prova".
O sentir-se só é tão igual, passei a pensar que ele nos unia. Que nada, ele apenas torna comum.
E isola.
Pessoas numeradas em códigos de barras.
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