Do dia em que ela resolveu que não comeria mais couve-flor até hoje se passaram três anos. Nesses dias todos ela pecebeu que as coisas que não faziam barulho estavam entre as mais significativas do mundo. A flor do canteiro da rua não fazia, o leite na caixinha retangular não fazia, a nuvem com cara de coelho não fazia, a cutícula que nascia também não.
Nos silêncios que conseguia identificar nas coisas e pessoas, via um intervalo de vida. Um pequeno espaço entre o "a que horas posso ligar então para falar com ele?" e o suspiro de alguém que definitivamente não queria ser atendente de telemarketing. Ali naquele espacinho cabia muito de tudo o que ela não tinha, a moça do telefone.
Os espacinhos estão sempre por aí. Às vezes eles não têm cores, o que nos obriga a sentir mais do que ver. Respirar mais do que tocar, eles estão sempre por aí. Agora mesmo, nesse intervalo entre a música que acabou e a outra que vai começar, consegue sentir? Como ele não tem cor, você pode pinta-lo da que preferir no momento. Eu escolho o amarelo.
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