domingo, 6 de novembro de 2011

De não precisar tanto

Ah, os insights. Não sei se com você é assim, mas eles me abrem a cabeça vez ou outra. Quando cursava Letras na faculdade (sim, eu fiz isso até admitir que odiava uma disciplinas que não me lembro o nome), havia uma professora chamada Moema e ela era cheia dos insights. Estávamos na aula, carteira atrás de carteira, e ela simplesmente dizia: “gente, tive um insight. Vai todo mundo lá na biblioteca pesquisar sobre literatura portuguesa e depois voltem aqui que vamos conversar sobre o assunto” (ou um verbete qualquer no dicionário, ou sobre a pedagogia do oprimido, ou a receita de um bolo de laranja). E tirava as pessoas da sua normalidade pra fazer teatro, qualquer coisa que desse na cabeça na hora da aula.

Ah sim, os insights. Talvez isso aconteça com todas as pessoas do planeta: viver e respirar apenas, sem nenhuma outra ambição. Mas sentir uma falta de algo, láaaa no fundo da mente ou do coração, que te faça vibrar, que te faça ter vontade de pegar um papel higiênico molhado e fazer uma escultura. Sabe a vontade?

Pois é. Na maioria das vezes a minha vontade fica presa em um buraco, um buraco como aqueles feito em quintais norte americanos para se construir uma piscina. A vontade está lá, andando no quintal e pronta pra ganhar o mundo quando de repente cai no buraco e não consegue sair de lá mais porque os infelizes da obra não colocaram nem uma rampa pra ela. E ela circula, circula e depois de horas, resolve dormir. Tenho várias delas nesse buraco da piscina, olho de vez em quando láaa do alto, tenho vontade de resgatá-las, mas até essa me vai e cai no buraco. Sabe como? Imagino que saiba.

Mas os insights, eles conseguem fazer as vontades saírem todas juntas! Eles aparecem felizes e contagiam tudo à sua volta. Escrever, por exemplo. É vontade constante. Acontece que de repente envelheci, de repente a distância entre a ideia, o impulso e a ação ficaram maiores. A verdade é que se não é pra ser perfeito, se não é pra ser certo, bonito e bacana, prefiro não fazer. Deixo a vontade ir pro buraco por puro perfeccionismo, um pouco de auto boicote também. E aí vem um insight e me faz descobrir: não precisa nada disso, minha gente. Não precisa ser perfeito, não precisa ser legal nem precisa ser artístico, basta que eu goste de fazer. Não precisa ser em terceira pessoa, não precisa colocar açúcar e canela, não precisa pintar com tinta guache, não precisa se preocupar se o tom desafina, se a poeira foi tirada, se o corte está elegante.

A mim me basta ser.

E aí caem por terra (opa, agora sim) as mil teorias que me fazem desacelerar em uma simples lombada a ponto de parar o carro. Quê isso, quê isso.

Sem essa.

Ah, os insights. Obrigada, Moema.
(com a colaboração casual do blog Jaqueline e o país dasmaravilhas e da Mariana Aydar )

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