quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

“A mulher disse”


Quando foi, em que dia estranho, hora exata e local que eu deixei de ser “a moça”?

Fila da comida no restaurante. Garoto pergunta pra mãe o que será que é isso. Batata assada, eu respondo. O quê é, filho? A mulher disse que é batata assada.

Apartamento em frente. Novos vizinhos. A mãe sobe escada com o garoto de cinco anos. Meus cachorros latem. E a vizinha: viu, filho, os cachorros da mulher?

Barzinho qualquer, dia qualquer. Garoto alto, nem 20 anos, moreno e esperto treinando cantadas mancas: eu não gosto de garotas, prefiro mulheres assim como você, são mais decididas.

Para. Péra aí. Quando foi que eu deixei de ser “aquela moça lá” pra virar “a mulher”?

Não me deram essa explicação, não estava no manual, eu não autorizei nenhuma mudança no modo de se referirem a mim.

Pode voltar, mundo. Tô esperando. Sentada calmamente com cremes no rosto que é pra disfarçar as rugas.

Obrigada.

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