segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não é do tipo que

Luiza não é do tipo que dança. Na festa dos amigos da empresa mal sai do lugar. Se esforça pra mexer os pés quando a banda começa a dizer que o samba não pode morrer nem acabar. Ela não se importaria se. É que não tem na garganta aquele grito preso. Não quer falar nem botar a boca seja lá onde for, menos ainda no trombone. 

Não espera nada do mundo além das seis da tarde e o ônibus que nunca chega. Se arrepende do sapato azul que comprou. Pede um remédio pra dor de cabeça na farmácia. Esquece o número do telefone de casa e depois descobre que melhor é mesmo isso: o silêncio do fim do dia quando ninguém pergunta nada, nem quanto custa a camiseta polo da vitrine.

Entre a mão apertar o trinco da porta e o som se propagar em ondas invadindo a casa inteira existe um universo que nunca ninguém nota, nem ela. O vazio ocupa a mente de Luiza enquanto o merchandising rola solto no capítulo da novela. Mas não acredita mais em comerciais de shampoo. A geladeira cheia só significa que ela não descuida senão o vazio toma, além da mente, a casa inteira. Coloca a televisão no mute e agora sim o que passa na tela se parece com a sua vida. Um carrossel rodando em silêncio com cavalos que não vão sair nunca do círculo colorido onde foram colados. E a música pode ser qualquer uma, ela tem a chance de escolher. Então decide que o silêncio combina mais com o escuro do que com luzes e matizes. E também com a falta de movimento. Involuntário, só o coração bate e continua como se o mundo precisasse tanto assim de euforia. Ao contrário dela, o órgão tem ritmo. Uma pena, Luiza não é do tipo que dança.

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