quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Normalidade
Será que ser normal é isso? Se preocupar com a conta de luz que está atrasada e o horário do ônibus pra chegar ao emprego e se a carne da geladeira já passou da validade?
Normalizei-me.
Fujam.
Fujam todos. Há um mundo maior fora da normalização. Há um mundo bem mais interessante e caleidoscópico.
Você começa querendo chegar logo aos 18 e termina querendo voltar aos 13. Mas aí já se passaram anos, holerites, contratos, certidões, diplomas, panos de prato embrulhados para presente e, no auge da decadência, você comparando preço de óleo refinado no mercado.
Fujam.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Detalhes
Vi uma flor no meio da calçada.
Mas a mulher não viu.
Pisou.
O motorista do carro não viu a flor.
Nem a mulher, nem a calçada.
Matou.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Letra que toca
Janela
Nina Becker
Nina Becker
As coisas passam sem se aproximar
Do caminho que se olha dessa janela
As coisas passam sem saber passar,
Passam as curvas, passam as chuvas que eu vou lembrar
Do caminho que se olha dessa janela
As coisas passam sem saber passar,
Passam as curvas, passam as chuvas que eu vou lembrar
Passam sem se aproximar,
Paradas, paradas,
Passam sem olhar pra cá,
Paradas, paradas
Paradas, paradas,
Passam sem olhar pra cá,
Paradas, paradas
Para voltar pra casa e descansar
Para poder chegar de algum lugar
Para tentar chegar de madrugada
Para poder perder a mão da estrada
Para poder chegar de algum lugar
Para tentar chegar de madrugada
Para poder perder a mão da estrada
Passam sem se aproximar
Paradas, paradas
Passam sem olhar pra trás
Paradas, paradas
Paradas, paradas
Passam sem olhar pra trás
Paradas, paradas
Para voltar pra casa e descansar
Para poder chegar de algum lugar
Para tentar chegar de madrugada
Para poder perder a mão da estrada
Para poder chegar de algum lugar
Para tentar chegar de madrugada
Para poder perder a mão da estrada
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Os vultos e a plantinha
..e todos os vultos acabam sumindo, menos aqueles que a gente faz questão que fiquem. Ora, a gente refaz tudo no começo do ano, não refaz? Me traz aquela xícara de água que vou botar no vasinho ali, faz tempo que não águo. Só boto água no começo do dia, agora são mais de três horas. Mas coitada da planta, não tem culpa da minha mania. Eu e as minhas manias. Cadê aquela vela de estrela que tava aqui?
Não, eu não acho que todo mundo perde o sonho, com a vida. Porque, como eu sempre disse pro Abel, desistir do sonho é parar de alimentar a alma. E a minha ainda tem fome, nesses tempos tão ruins pra gente que ainda resolve sonhar. Talvez eu tenha jogado fora a vela. Acho que tinha cheiro de... morango?
Velas com cheiro são boas. Mas esses dias, vi no mercado sacos de lixo com cheiro de frutas. Era... limão para metais, uva para papel, laranja para vidros e... como era mesmo? Não sei, li por alto.
E apareceu um moço no portão dizendo: "tem alguma coisa pra dar?" e eu ia estender a mão e oferecer um abraço, mas duvido que ele aceitasse. A gente oferece aquilo que tem, então eu lembrei de pegar um quilo de arroz no armário, mas o pacote já tava aberto. Foi aí que vi o tanto de gelatina acumulado na despensa. E nem era tempo de festa junina, quando as crianças pedem "prenda" nas casas e a coisa mais fácil de dar é gelatina... Mas entreguei pro rapaz algumas moedas guardadas no fundo da bolsa e algumas roupas numa sacola, ele sorrindo e dizendo "eu levo pra minha irmã" e saindo, andando até o fim da quadra e virando a esquina.
Mas a bolsa, sabe, não tem mais tantas moedas quanto antes. É que as padarias têm colocado aviso dizendo "agradecemos aos clientes que pagarem com moedas"... Sim, eu acho que a riqueza do país tá nas moedinhas, todas guardadas nas gavetas das casas. Eu mesma não me importo muito com elas não. A riqueza, as moedas. Nem com as gavetas.
Foi semana passada que você viu uma criança te espiando no vestiário da loja? Eu acho que você fez bem em reclamar com a mãe do menino, mesmo ela tendo gritado pra todo mundo que você era uma sem-vergonha. Eu acho que as pessoas tão muito sem criatividade. Eu prefiro os dentes-de-leão. É. Do que as marias-sem-vergonha. Cê pega água pra eu colocar na plantinha? Eu só rego ela de manhã, mas ela não tem culpa das minhas manias. Hoje ainda não agüei ela.
Falando nisso, vieram aqui em casa perguntar se eu queria colaborar com o asfalto na minha rua. A mocinha, toda suada, segurando a tabuletinha marrom, coitada, insistiu e disse que se um dos moradores não aceitasse pagar tantos reais, em até sete vezes, até sete vezes, ela disse, a rua não podia ser asfaltada. Você veja, eles vêm pressionar, colocando a culpa na gente! Ora, minha filha, eu falei, eu já pago IPTU, já pago a taxa do lixo, já pago pra prefeitura me deixar morar nesse pedaço de casa depois que o Abel morreu. Aí você vem e me diz que se eu não pagar os vizinhos vão ficar sem asfalto? Foi o prefeito que prometeu asfaltar quinhentos quilômetros de ruas? Então manda os vizinhos cobrarem dele, que eu não prometi nada a ninguém. Ela fez cara de brava e disse "então, boa tarde pra senhora". Eu ia oferecer um copo de água, ela toda suada no pescoço, cê tinha que ver. Achei ela elegante, não perdeu a pose nem quando o gato preto da Joana pegou na perna dela, que nem faz com todo mundo.
Eu ia falar pra ela, mas ela não deixou. Que eu ainda tenho gosto de ver passar aqueles caminhões pesados aqui na rua, que eles levantam pó e logo vem a vizinha da frente varrer a varanda e reclamar que não deviam passar caminhões daquele tamanho no bairro. Ela varre, varre, entra em casa e chacoalha todos os lençóis e arruma de volta na cama. Tem vezes que ela tão fica irritada que recolhe a roupa do varal, acho que coloca na máquina de novo, porque dali a pouco corre estender de novo, tudo pingando...
Aquela sua colega ainda tá procurando gente pra trabalhar na casa dela? A que trabalhava pra Leonilda tá sem serviço e grávida, mas ainda de uns três meses. Já tem dois em casa e eu digo pra ela se cuidar, mas não adianta. Ela aceita meio período, por dia, por mês, é bem esforçada. Diz que o marido quebrou a cabeça na porta, foi quando a polícia entrou de supetão na casa procurando droga, mas não tinha nada não e mesmo assim reviraram tudo, aí foram encontrar escondido no Fusca da mulher que mora nos fundos, e na foto do jornal saiu o carro, a droga, as casas da vizinhança e o marido dela na frente da casa, com a cabeça sangrando. A manchete dizia: "Polícia prende cinqüenta quilos de cocaína na favela". Daí o marido foi procurar emprego no mercado dali de perto e o gerente perguntou "não foi você que saiu no jornal esses dias?", e olharam pra ele de cima a baixo. Aí até explicar que não tinha nada a ver com o trem... Eu sei é que tenho medo que algum dia um grande mal-entendido estrague a minha vida. Se bem que, estragar o quê, né? Eu nem saio mais de casa, só daqui prali, nem a sua tia não vem mais me buscar pra ir na casa dela.
Mas não sei não, se eu encontrasse uns cem mil na rua, acho que ficava pra mim. Quem é que devolve, hoje em dia? O senhorzinho que devolveu o dinheiro perdido no táxi dele foi chamado de idiota pelo pessoal do ponto, tudo amigo dele. Mas que belos amigos, né? Eu até podia procurar o dono, na verdade, mas daquele jeito, meio por cima, torcendo pra não encontrar. Teve um dia que eu achei vinte reais no chão, mas veio uma moça com outra menina e, bem rapidinho, colocaram o pé em cima e já abaixaram pra pegar. Saíram rindo, as duas. Ah, deixa pra lá...
Eu fico assustada sabe com o quê? Com aquela vontade que o mal aconteça com quem foi ruim pra gente. Quando eu era mais nova eu guardei uma mágoa de uma amiga da tua tia, eu fiquei meses pensando "quem ela pensa que é pra falar assim comigo?" Passou uns dias e eu soube que ela tinha sofrido um acidente de carro, nada muito grave, e depois foi demitida, ainda por cima. Aí aquela vozinha dentro da gente me dizia: "viu, viu? bem feito, ela mereceu!". Eu acho que fiquei sem me olhar no espelho uns dias, viu. Acho que eu tinha medo de a imagem me olhar com cara feia. Mas volta e meia acontece isso. Quando eu percebo que fiz de novo, abaixo a cabeça e pego meu espanador. Eu espano, espano os móveis da sala e só levanto os olhos pra ver a rua depois que a vergonha passa.
Sei lá, eu penso que quando as pessoas vão embora, ficam só os vultos. Assim como tem gente que pensa que depois da morte os espíritos ficam vagando aqui por perto. O vulto de uma pessoa nunca abandona quem ela acompanhou a vida toda. Você deve ser o vulto de muita gente, sabia? Não fala com seu pai há quanto tempo mesmo? Acha que ele não tem remorso disso? Acaba que ele vai virar um vulto pra você, cada dia maior, e no dia que disserem "ah, o PT já foi um bom partido", você vai derramar umas lágrimas sem querer, vai ver o vulto crescer aí perto de você. Aí vai pedir licença, vai no banheiro e vai ficar triste e vai ter que tomar remédio pra depressão. E tudo por quê? Por que você deixou ele virar um fantasma na sua vida, sem precisar. Eu tenho a impressão que alguns fantasmas a gente não consegue evitar, mas os que a gente pode, eu acho bom é fazer isso logo, consertas as coisas, sabe? Uma hora ou outra a gente entende as coisas que passaram. E aí todos os vultos vão embora, menos aqueles que a gente faz questão que fiquem, tem uns que a gente não se livra mesmo.
Aquelas marcas, eu já te disse, as marcas de quem viveu aqui, aqui nessa sala, ficam guardadas na parede. E quando, um dia, tocar aquela música que a pessoa gosta, elas, as marcas, vão tomar conta da sala. Que nem quando as valsas tocavam nos bailes que a gente ia, antigamente. E a sala pode até ser outra, pode ter outras coisas, ser pintada de roxo, pode até não ter aquele vaso de planta, pode ter virado outra coisa. Pode até não ter mais nada mesmo, igual eu falei. Mas os vultos ficam. Eles ficam sempre. E a gente leva pra outro lugar. Eles ficam presos nas estatuazinhas, aquelas que a gente deixa ali em cima da estante. Ficam nos copos, ficam no acolchoado. E sabe o que eu acho? Que a gente é que gosta que eles continuem ali. Pra ter com quem tomar café de vez em quando. Cê não acha, não, Izabel? Izabel? Faz um favor? Pega aquela caneca ali e me traz uma água da torneira. Acho que faz dias que eu não rego a plantinha. Coitada.
domingo, 25 de novembro de 2012
O estranho da vida
Pra mim 2012 já havia acabado. Tantas novas coisas aconteceram comigo e com pessoas que estão comigo que, bem, eu já estava com essa sensação de: uau, quantas novidades.
Ok, eu sempre tenho essa sensação de que o ano já passou, que estou bem lá na frente e os dias do calendário são datas passadas. Ainda que seja a data de hoje. É uma estranha sensação. Eu sempre correndo lá, tão lá na frente...
Em agosto comecei a sentir isso: um ciclo acabando. Claro, na minha cabeça. Por que as coisas continuam acontecendo num ritmo impressionante.
No fim de 2011 eu ouvia aquelas previsões de como 2012 seria um ano de mudanças. Chamavam de "o ano do dragão". O ano em que, se você se dedicar, terá muitos retornos. O ano em que as coisas podem mudar de maneira radical. O ano em que a energia vai estar voltada para grandes acontecimentos.
Bem, eu não sei como foi este ano pra você. Mas pra mim tudo isso aconteceu. E começou lá em janeiro. E estamos em novembro e ainda sinto que estou vendo a terra se movimentar debaixo dos meus pés enquanto eu corro de montanha em montanha.
E nos últimos dias as coisas se tornaram um pouco estranhas. Acho que agora eu precisava de umas pequenas férias. Pra me centrar novamente. Eu, que sempre corro, quero parar e respirar. Quero ter aquela sensação de quando se dorme e se acorda sem saber exatamente quem é e o que houve, que dia e que horas são, onde se está. Tenho dessas noites em que durmo tão profundo que esqueço de tudo. E é ótimo.
E muitas das coisas que me aconteceram são simplesmente incríveis e ótimas. Aliás, o saldo positivo desse ano é muito, muito grande. O tanto que eu cresci e entendi a vida foi, talvez, proporcional ao tempo que eu passei adormecida, letárgica, como aconteceu durante alguns anos.
Foi como se me colocassem numa escada e dissessem: vai. E apagassem todos os degraus debaixo daquele onde eu estava. Eu subi.
Meu pai teve câncer e se recuperou, eu conheci alguém muito especial, consegui freelar pra Abril, arranjei um emprego bacana, me apaixonei e comecei um namoro, fiz novos amigos verdadeiros, meu pai se casou e entrou para uma bela família, me aproximei mais de uma amiga que se tornou minha nova irmã, comecei a morar sozinha, fui convidada pra outro emprego bacana e... muitas outras coisas que aconteceram com amigos e parentes e pessoas queridas que, de alguma forma, me afetou.
E eu, que quero parecer forte e segura, acabei ficando bem vulnerável nos últimos dias. E acabei descobrindo que tenho uma distorção de imagem muito grande. Que aparento ser muito melhor do que acredito ser. E isso é mais uma das descobertas deste ano cheio de acontecimentos.
Lembro de ficar repetindo o refrão da música da Marina, "eu espero acontecimentos, mas, quando anoitece é festa no outro apartamento". Mas em 2012 as coisas realmente aconteceram. E cá estou eu tentando montar um cenário com as pecinhas novas que ganhei.
Estou bem cansada, mas grata. Ok, não terminei meu livro - não sei o que fazer com a personagem cínica que criei. Como muitas vezes não sei o que fazer comigo. Talvez a personagem também deva acreditar no ano do Dragão, acreditar que as mudanças que ela tanto deseja podem surgir, dia após dia, mesmo sem ela se dar conta. E talvez, lá na frente, ela olhe pra trás e diga: uau.
domingo, 18 de novembro de 2012
A loja de livros, o amigo e o bolo
Era a segunda vez em dois dias que levaria um bolo. Sentou-se no banquinho da loja de livros e pôs-se a ler os títulos, nas lombadas, com letras viradas em 90 graus. Lia e não pensava sobre. Outra vez havia se movido, com coração acelerado, expectativa, cabelos penteados e corpo com perfume doce. Estar ali era provar novamente que com poucas palavras, até com pouca expressão da parte dele, ela iria até o fim do mundo pelo amigo. Bastava um pedido. (Machado de Assim, Lima Barreto, Ana Miranda, Heloísa Seixas). Começa a ler uma história. O telefone celular toca. Ainda no banquinho, treme.
Ela: - Fala...
Ele: - Então. Eu tava chegando aí quando vi a Lívia atravessando a rua.
Silêncio: ...
Ela: - Pegou os cds com ela, pelo menos?
Ele: - Peguei. Mas tô indo embora. Não tenho condições de ficar mais aqui na cidade, não mesmo. Mas obrigada. Tchau.
O tamanho do bolo só poderia ser comparado com aquele de trocentos metros que é feito no aniversário da cidade de São Paulo. A pressão percorre o corpo, da cabeça aos pés. Ela esperava que ele fosse encontrá-la ali. Estava ajudando depois do fim de um namoro do moço. E haviam marcado de ela, a amiga fiel, pegar coisas dele que estavam com a ex-namorada. E ela, a amiga, estava numa loja de livros usados, esperando. Então ele liga e desmarca. Liga e desmarca porque viu a ex-namorada no meio da rua e não soube lidar.
Bem, ela continuaria por ali, a vontade de andar também havia ido embora. Condenou-se pela expectativa, animação, as quadras que andou de maneira leve e feliz. Lamentou pela meia hora que passou embrulhada em uma toalha após o banho, os cuidados com as mãos, as unhas, a sensação de arrumar-se para.
Quis morar, de repente, no prédio ao lado da loja de livros. Bastaria subir dois lances de escada e o chão gelado a receberia. De braços abertos, rosto colado no azulejo, o mundo seria outro depois de uma decepção. Por agora, suava na nuca. Mudança de planos, ausência de idéias. Por algum tempo esperou que uma borboleta batesse as asas no Sudão para que o caminho dele se modificasse por aqui e ele aparecesse, sem mágoas. Das pessoas que passavam em frente à porta de vidro, nenhuma era o moço. Sustentava pequena alegria com passos se aproximando, o olhar no chão. (Melhor não olhar, deve ser, deve ser. Eram sempre outros.)
E porque se abalara de longe prali? Antes, de noite, o diálogo pela internet propunha um encontro. Não era ela o foco da situação, ele não iria até lá para vê-la. Ela, sempre coadjuvante, nunca protagonista. Mas topava porque estariam juntos por alguns momentos. Haveria o encontro. Gostava de estar com ele.
- Faz um favor para mim? Não quero ver ela, não depois de tudo. Vai até o apartamento e pede a minha coleção de cds. São poucos, eu te espero na esquina. Mas não dá mesmo pra eu ir.
Claro, somos amigos. Por que não?, claro, claro. Concordei, em absoluto. E não seria dessa vez que deixaria de dar belos conselhos que iam contra o que eu sentia.
- Mas olha, fale com ela novamente. Vá atrás, tente voltar!
Ela já sabia que estava cruzada a linha que separa o querer para si da amizade. Aquilo que torna impossível o outro olhar com desejo porque já se tem o olhar de amigo. E dali pra adiante não haveria mais o olhar que despertava dúvidas. Os poucos metro de distância entre dois corpos não seria diminuído com o encontro dos olhos. Não mais.
- Insista. Faça qualquer coisa e deixe arrependimentos para depois. Esqueça o orgulho.
De maneira insana, dizia ao moço-paixão para reconquistar sua ex-namorada. Que era pra ele o ideal de mulher. Perfeita em todas as virtudes e falhas.
Pensou que as palavras de incentivo seguiam uma lógica torta. Deviam partir dela pra si própria, era ela que precisava dessa confiança pra soltar tudo o que sentia, de vez. Pervertia o sentido do que se passava no coração. Desacreditava de tamanha covardia, que se travestia de coragem em palavras de ajuda.
Por hora, na loja de livros, era preciso traçar um rumo. Estava perdida. Sem o encontro, sem o moço, sem o papel de amiga que consola e faz piadas.
Na rua, as pessoas pareciam saber o conteúdo de suas idéias. Teve o homem que a acompanhou, à curta distância, e com certeza ciente daquela tristeza toda. Não aguentaria a exposição da própria ilusão, desviou o caminho para uma loja na qual nunca quis entrar. Vitrines, roupas, promessas de felicidade em dez vezes ou cheque direto para a Páscoa.
Achou por bem raciocinar sobre o acontecido. Contou a si mesma e admirou-se por tamanha infantilidade. O que estava pensando? Tinha por acaso doze anos? Amor platônico, ahn? E achava que isso ia dar em que? O que raios fazia no meio da cidade, enfrentando a dureza do sol das três da tarde e as pedras soltas na calçada? Quem estava pensando que era?
Lembrou-se. Não quis escutar o que se passava pela cabeça. Lembrou das palavras diretas. "Ela é o meu ideal de mulher". Como bexiga vagabunda após duas horas de festa, murchou. A auto estima e a vontade, quase pode ouvir o barulho da ilusão indo embora. Ideal, ideal. Mulher.
Poderia ligar e dizer tudo o que pensava e sentia. Poderia tentar algo. Poderia ter um não de verdade pra enfrentar, e não só ideias e hipóteses. Mas não o faria, sabia.
Em casa haveria Sessão da Tarde. Poderia fazer um bolo de chocolate e fingir que nada havia acontecido. Como única testemunha de um fracasso desconhecido, o suor caía pela testa. Duas quadras e poderia deitar no chão da cozinha. Ainda bem.
Recebi por e-mail de uma amiga. Não nos falamos há tempos, mas ela está sempre por aqui, lendo. Obrigada, Patinha. =)
"Oi Gi, tudo bem...queria fazer um comentário no seu blog, mas não deu certo, simplesmente desisti de tentar me adaptar a estas mídias e as formas como funcionam. Eu admito: "não sei mexer, não sei usar.. " Enfim, só queria dizer que simplesmente amo seu blog, sobre o que escreve, como escreve. Às vezes sinto que você tem a capacidade de ler pensamentos. Leio alguns posts e penso: "caramba, é bem o que senti, o que pensei". a diferença é que você consegue transformar em palavras este monte de pensamentos e sensações. enfim, Às vezes sinto que você tem a capacidade de ler pensamentos.Definitivamente, sou sua fã. Ah, certamente estou nesta estatística que você não entendeu muito bem da contagem de visitantes.. sempre passo por aqui para ver se a dona Gislaine escreveu algo de novo. rsrs. Saudade de você. um grande bjo e tudo de bom.
Patinha"
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Truques virtuais
Eu acho que o Blogger tá bem de sacanagem. Ele me diz que todo dia tem algum visitante nesse blog. Todo dia. E às vezes é mais de um. Às vezes tem... dez acessos por dia. Quatorze. Vinte e um! Eu acho que é mais ou menos como aquela teoria do radar. De que quando você é pego uma ou duas vezes, toda hora recebe uma multa como se tivesse mesmo passado acima da velocidade, em qualquer local aleatório. É, uma vez aconteceu com meu pai. Ele estaria em Ponta Grossa num momento e, em menos de uma hora, no Centro de Curitiba. Duas multas no mesmo dia em intervalo de tempo impossível. Daí a teoria.
Mas o blog. Veja só, o blog é um espaço em que vez ou outra tem texto. E vez ou outra esse texto é legal. E vez ou outra alguém entra e lê um texto que pode ou não ser legal. Não tem sentindo ter dez acessos num dia, todos os dias, o mês inteiro.
Não faz sentido algum. Eu entenderia um ou dois acessos a cada três dias. Eu entenderia cinco acessos a cada quatro dias. Eu entenderia até cinco dias a cada dois acessos. Eu fico semanas sem escrever e quando entro na página de administradora eu vejo que foram 367 acessos num mês.
Trezentos e sessenta e sete.
...
Divertido.
Mas o blog. Veja só, o blog é um espaço em que vez ou outra tem texto. E vez ou outra esse texto é legal. E vez ou outra alguém entra e lê um texto que pode ou não ser legal. Não tem sentindo ter dez acessos num dia, todos os dias, o mês inteiro.
Não faz sentido algum. Eu entenderia um ou dois acessos a cada três dias. Eu entenderia cinco acessos a cada quatro dias. Eu entenderia até cinco dias a cada dois acessos. Eu fico semanas sem escrever e quando entro na página de administradora eu vejo que foram 367 acessos num mês.
Trezentos e sessenta e sete.
...
Divertido.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Depois que eu me encontrar
Eu dobrei a esquina sem ter a mais vaga noção do que encontraria. Um dia com asfalto quente, sorvete mole escorrendo do palito, alegria-triste na mendiga da padaria, cachorro magro atravessando na frente da van escolar. O horóscopo não fez a previsão, não foi possível me preparar com antecedência. A cigana da praça não notou nas linhas de minhas mãos o evento futuro.
O Bom Dia Brasil não conseguiu antever os fatos. A precaução de senhoras aposentadas, contando seu dinheirinho antes de chegar no caixa da farmácia não seria suficiente para impedir meu espanto. O gato preto ficou surpreso e passou por baixo da escada. A moça que ia pular do décimo andar parou para ver, permitindo-se um último momento de curiosidade em vida.
O pedreiro deixou o cimento secar enquanto coçava a cabeça, intrigado com o que via. O vendedor de redes se abaixou, deixando a curva do final das costas exposta como sorriso de bêbado. O ônibus que caminhava para o ponto diminuiu o ritmo para esperar o fim do acontecimento. O certo é que num raio de cem metros o dia de repente estremeceu e decidiu apenas se arrastar.
Eu caminhava para a hora estranha de minha vida. Ele vinha correndo, aos tropeços, mais rápido do que o motoboy que capotou enquanto olhava a cena, mais devagar do que o piscar conformado do gato cinza que observava do alto de um muro. Estranhamente, ele vinha ao meu encontro. Não era possível enxergar sua intenção com tal atitude, mas o objetivo, visivelmente, era chegar até mim ou, no mínimo, me atropelar sem pensar duas vezes.
Pronto, agora você vai lá e continua essa história, porque eu parei aí.
Vendem-se ideias
Tenho muitas ideias e vontades aleatórias. Eu só não as realizo. Eu poderia ser paga pra ter boas ideias. Não essas que funcionam, técnicas, de resolver problemas, exatas. Mas as ideias aleatórias. Vendem-se ideias aleatórias. É, eu poderia ser paga pra criar esse tipo de coisa.
Fui dormir ontem pensando que legal seria escrever um livro de presente. Assim: uma página por dia durante o ano todo e entregar pra pessoa no dia do seu aniversário. Pode ser um livro de histórias, mas pode ser só de frases, um pensamento que se pensou por dia. Aleatório, claro.
Tenho ideias de coisas pra se trabalhar: serviços que podem ser oferecidos, projetos que podem render muita diversão e, quem sabe, algum dinheiro. Presentes que podem ser dados ou construídos de forma bem específica.
Tenho ideias para nomes engraçados de livros. Ideias para histórias de livros, ideias para contos, crônicas e bilhetes.
Ideias de coisas bobas para se fazer na rua.
Ideias eu tenho aos montes. Aos borbotões. Não me peça para executá-las. Posso contratar alguém pra isso. Vendem-se ideias. Ou: contrata-se gente esperta para colocar boas ideias em prática.
Não se pode ter tudo, oras.
domingo, 14 de outubro de 2012
Eu ia...
...dizer tudo o que senti hoje, por volta das 22 horas. Mas é tão bom e incrível e íntimo e me faz tão feliz que eu decidi guardar só pra mim.
Há.
Há.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Eu estava errada. A resposta é: amor
Eu estava errada. A resposta é: amor. Tudo aquilo de se
preocupar em conquistar sucesso, reconhecimento e espaço no mundo, tudo aquilo
estava errado.
Nos últimos dias eu vinha dizendo que o fato de acreditar,
sempre, nas pessoas e no que me dizem, acaba me prejudicando. E que eu deveria
ser mais cética em relação ao mundo e às intenções de qualquer um que passe
pelo meu caminho.
No entanto, isso me torna cínica e desacreditada. Me leva a
pensar que as coisas não valem a pena e que é a competitividade que move o
mundo. Me torna descrente e sem vontade de participar de um jogo onde o mais
importante é se dar bem.
E não, não é o que eu quero. Porque quanto mais desconfiada
e “esperta” me torno, menos alegria eu tenho.
A resposta é amor. O sentimento que eu sempre tive em mim
pelas pessoas, animais, pelo mundo e o que existe nele. O que senti hoje pela
manhã foi que não sou alguém que busca vencer na vida com base nos parâmetros “comuns”,
tais como dinheiro e sucesso profissional. Eu sempre acreditei que o natural é
ser feliz com o que se é e o que se pode receber da vida, assim como o que se
pode dar. E havia perdido isso nos últimos meses. Essa consciência de que, ei,
não importa se alguém tem o objetivo claro de te passar para trás, o que tem
importância é a minha própria sinceridade. Eu ainda ganho quando me mantenho
sincera, ainda que haja alguém tirando vantagem sobre isso.
É como quando eu ofereço uma moeda pra alguém da rua que parece
estar precisando de ajuda e alguém do meu lado diz “você sabe que ele vai usar
pra comprar bebida, não é?”. Sim, é possível, mas a minha intenção foi,
sinceramente, de ajudar, dentro das possibilidades daquele momento. E você pode
me dizer que o conselho sobre não dar dinheiro a pessoas de rua é útil, tem lá
seu sentido, mas não pode me convencer que é mais importante ser esperto do que
deixar o que sente te guiar.
A resposta é amor porque ele vai além do amor romântico, ele
é maior do que uma amizade, ele está lá bem depois do amor próprio. É o amor
pela vida e pelo que me acontece diariamente, pela oportunidade de conhecer
pessoas e respirar e comer um pedaço de pudim de leite e achar que é a melhor
coisa do mundo. É gratidão. É o amor de olha pra alguém que só mostra
individualidade, que só fala de consumo e de coisas materiais e ver que mesmo essa
pessoa é boa, essencialmente boa, não importa o que se esforce para demonstrar.
É o amor que me faz sentir que, quando alguém grita comigo e tenta provar que
está certo, é só uma necessidade dela de se fazer mais forte e se sentir menos
pequena nesse mundo ou na situação que está vivendo. É o amor que me diz que
não vale a pena deixar coisinhas bobas, que em geral mexem mais com o ego do
que com o coração, acinzentarem meus dias, tirando as cores bonitas que eu
tanto gosto de enxergar.
Por isso, repito: eu estava errada. Eu posso nunca vir a
deixar uma obra importante pra humanidade ou conquistar reconhecimento
profissional ou mesmo ganhar dinheiro para viajar pelo mundo e... tudo bem!
Assim como posso ser quem eu bem quiser aqui, dentro do meu coração, aquilo que
me faz bem e me faz sentir que sou verdadeira.
E o melhor: hoje acredito que eu já seja exatamente aquela que
eu sempre quis ser.
E aqui logo abaixo está a música que conseguiu me fazer acordar para a vida, hoje pela manhã:
E aqui logo abaixo está a música que conseguiu me fazer acordar para a vida, hoje pela manhã:
Bernward Koch - Walking Through Clouds
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Nunca vou ser
Cena de "O show de Truman", quando ele descobre que "o céu é o limite" |
Eu tenho 27 anos e provavelmente a minha vida vai ser isso
mesmo. Não vou ser uma grande jornalista ou escritora ou veterinária. Não vou
oferecer uma grande contribuição para a humanidade ou uma história comovente
que vá servir para algum livro ou mesmo um conto da Reader´s Digest. Não vou
chegar à presidência ou diretoria ou gerência de qualquer empresa ou
empreendimento. Não vou ganhar na loteria. Não vou aproveitar a vida
loucamente, saindo por aí pra viagens ou aventuras que valham a pena e que vão
mudar meu mundo. Não vou cantar, dançar, pintar, recitar ou qualquer outro
verbo de forma a ser alguém diferente de tantos outros alguéns que andam por aí.
É bem possível que eu vá trabalhar em uma empresa, depois em
outra e, se gostarem de mim, posso até permanecer por um bom tempo. Então vou
mudar uma ou duas vezes de cargo, com sorte receber algumas promoções, com azar
topar com gente que tem um santo que não bate com o meu (a-ah). Vou engolir
muitos sapos e ter algumas recompensas morais fazendo um bom trabalho que,
possivelmente, não vai passar disso: um bom trabalho.
Terei uma família, sim, com gatos e cachorros, talvez um
marido, quem sabe um filho que aos sete anos vai me dizer que será um
astronauta quando crescer. E eu vou alimentar esse sonho e dizer: ei, filho,
você pode ser o que quiser nessa vida, tudo depende somente de você e do
tamanho dos seus sonhos.
E eu vou saber que é mentira. Mas ele, bem, talvez só descubra mais tarde. Com sorte, só aos 27 anos.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
dois
A solidão de
Mariana gosta quando ela fica em casa sem barulho, só ouvindo a rua que lá fora
respira e guia as pessoas para seus compromissos. A solidão de Mariana gosta de
ficar em paz sem ninguém por perto. Ausente de si e dos desejos.
Mas tinha lá suas vontadezinhas,
pequenas ambições. As grandes, não, essas quase nunca. E para tudo o que
desejava ela gostava de definir um número, como produtos em um catálogo, pratos
em um menu. O três era o número das coisas impossíveis. Querer ganhar na Mega
Sena era um três. Esperar o ônibus chegar era um cinco: o tipo de coisa que vai
acontecer, basta saber esperar. O oito precisava de um pouco mais de paciência:
poupar 30 reais por mês para comprar um massageador de pés. O doze era pra
ocasiões especiais, aquelas que a gente não esquece e quer guardar em um
porta-jóias. O porta-jóias, aliás, era um sete, coisas antigas que ficam pra
trás aos poucos e de repente a gente não lembra mais que existiram um dia, como
o trema, a letra cursiva e o óleo de soja em lata de alumínio.
Trabalhar numa loja de turismo
num shopping center era um oito: paciência pra atingir algo que ela ainda não
sabia o que era, mas que com certeza iria lhe aparecer na mente como um pedido
de hambúrguer que fica pronto e a senha fica no display em vermelho. Ou a
atendente grita: vinte e sete. E lá estará o sonho que sempre precisou ter no
coração, prontinho pra ela dizer: sempre quis isso. Enquanto isso, guardava
dinheiro para algo que desejaria fazer um dia. Quem sabe uma viagem pro
exterior, um anel de diamantes ou só o resto da vida usando uma roupa nova por
dia. Coisas simples.
É, é verdade que faltava a ela
essa vontade louca de alcançar algo, de ter um objeto, de querer alcançar uma
coisa com tanto desejo que doeria. E com essa falta ela tomava sopa diet todas
as noites. Só queria paz nos pensamentos e um cachecol diferente por inverno e
pra isso não eram necessários tantos projetos assim.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Sem barulho, nada feito
Imagem 1: Ideias agitando ao som de música disco no meu cérebro. Imagem 2: sem barulho por perto, elas apagam.
O silêncio me assusta e me deixa sem ideias. Justo eu, sempre tão cheia de palavras e opiniões e pingos nos is.
Sabe isso de morar sozinha? Sempre quis. Ter um espaço próprio pra fazer ou não fazer o que bem se entende. Quis, muito mesmo. Continuo querendo, a propósito. Gostei.
Tenho lá meus problemas com o silêncio, apenas.
É que em geral eu estou sempre ouvindo sons: música, televisão, telefone, pessoas no ônibus, no rádio, no mercado. Ficar sozinha já é comum. Em silêncio, não.
E assim como não fico em silêncio, não fico sem ideias. Como se fossem um casal de irmãos ou melhores amigos. Eu coloco músicas em sequência. Ligo a tv ao mesmo tempo em que ouço Nina Simone. Ligo o secador e leio as legendas do filme na TV. Desligo o secador e a TV e ligo o micro-ondas. Desligo o micro-ondas e vou para o banho. Antes de entrar no banho, mudo as músicas que estão listadas no computador.
No trabalho, fones de ouvidos sempre a postos. Colegas conversando, ligações telefônicas, o barulho dos dedos no teclado, a chuva, o pigarro das pessoas no banheiro, a CBN na caixa de som do chefe, o toc toc das moças sobre seus saltos. E a sensação de que tudo está no seu devido lugar.
Então estou em casa, lendo no computador. O texto me prende, me distraio. A música acaba e eu não percebo. O programa que toca as músicas na sequência para, mas eu continuo lendo. Alguns minutos depois e... parece que estou em outro mundo, tão, tão diferente. Então eu percebo.
Ao invés de melodias, é a ausência delas que enche a sala do apartamento. E os pequenos sons ficam ao fundo: o vizinho chacoalhando as chaves antes de entrar, carros lá longe, alguém chamando pra janta, um cachorro latindo dois andares abaixo do meu. E eu me dou conta de que fiquei em silêncio sem querer. Bem, sobrevivi. Mas tenho medo: irão as ideias todas embora?
Por um instante é o que parece. De noite e em silêncio, o que sinto é que o mundo, como eu, resolveu tirar umas horinhas pra ficar sozinho, mas não sabe bem se foi a melhor opção. Minuto a minuto percebo que ainda estou viva e, ora, pode ser bom. De repente é o caso de deixar as ideias se assentarem... Elas, que ficam o tempo todo dançando Stayin' Alive no meu cérebro, de meias brilhantes em um salão colorido. Pode ser bom encontrarem um espaço pra respirar e, ufa, descansar da tensão que é ter de entender tudo o tempo todo e ainda mostrar resultados.
Deitadas desajeitadamente em pufs e travesseiros, as ideias parecem mesmo gostar do descanso. E se acomodam lado a lado, estiradas. Uma já diz que dá até para praticar yoga nesse silêncio, mas as outras, espertas, alertam: praticar yoga é fazer algo - que tal não fazer nada?
As ideias se dedicando ao nada e eu sobrevivendo ao silêncio, tentando tirar dele algo de útil. Minha atual definição de morar sozinha.
P.S.: Talvez seja bom admitir, ainda em tempo: sou bem melhor com música e barulho. O mesmo silêncio que me acanha me torna uma escritora medíocre.
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