terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sem barulho, nada feito

Imagem 1: Ideias agitando ao som de música disco no meu cérebro. Imagem 2: sem barulho por perto, elas apagam.


O silêncio me assusta e me deixa sem ideias. Justo eu, sempre tão cheia de palavras e opiniões e pingos nos is.

Sabe isso de morar sozinha? Sempre quis. Ter um espaço próprio pra fazer ou não fazer o que bem se entende. Quis, muito mesmo. Continuo querendo, a propósito. Gostei.

Tenho lá meus problemas com o silêncio, apenas.

É que em geral eu estou sempre ouvindo sons: música, televisão, telefone, pessoas no ônibus, no rádio, no mercado. Ficar sozinha já é comum. Em silêncio, não.

E assim como não fico em silêncio, não fico sem ideias. Como se fossem um casal de irmãos ou melhores amigos. Eu coloco músicas em sequência. Ligo a tv ao mesmo tempo em que ouço Nina Simone. Ligo o secador e leio as legendas do filme na TV. Desligo o secador e a TV e ligo o micro-ondas. Desligo o micro-ondas e vou para o banho. Antes de entrar no banho, mudo as músicas que estão listadas no computador.

No trabalho, fones de ouvidos sempre a postos. Colegas conversando, ligações telefônicas, o barulho dos dedos no teclado, a chuva, o pigarro das pessoas no banheiro, a CBN na caixa de som do chefe, o toc toc das moças sobre seus saltos. E a sensação de que tudo está no seu devido lugar.

Então estou em casa, lendo no computador. O texto me prende, me distraio. A música acaba e eu não percebo. O programa que toca as músicas na sequência para, mas eu continuo lendo. Alguns minutos depois e... parece que estou em outro mundo, tão, tão diferente. Então eu percebo.

Ao invés de melodias, é a ausência delas que enche a sala do apartamento. E os pequenos sons ficam ao fundo: o vizinho chacoalhando as chaves antes de entrar, carros lá longe, alguém chamando pra janta, um cachorro latindo dois andares abaixo do meu. E eu me dou conta de que fiquei em silêncio sem querer. Bem, sobrevivi. Mas tenho medo: irão as ideias todas embora?

Por um instante é o que parece. De noite e em silêncio, o que sinto é que o mundo, como eu, resolveu tirar umas horinhas pra ficar sozinho, mas não sabe bem se foi a melhor opção. Minuto a minuto percebo que ainda estou viva e, ora, pode ser bom. De repente é o caso de deixar as ideias se assentarem... Elas, que ficam o tempo todo dançando Stayin' Alive no meu cérebro, de meias brilhantes em um salão colorido. Pode ser bom encontrarem um espaço pra respirar e, ufa, descansar da tensão que é ter de entender tudo o tempo todo e ainda mostrar resultados.

Deitadas desajeitadamente em pufs e travesseiros, as ideias parecem mesmo gostar do descanso. E se acomodam lado a lado, estiradas. Uma já diz que dá até para praticar yoga nesse silêncio, mas as outras, espertas, alertam: praticar yoga é fazer algo - que tal não fazer nada?

As ideias se dedicando ao nada e eu sobrevivendo ao silêncio, tentando tirar dele algo de útil. Minha atual definição de morar sozinha.

P.S.: Talvez seja bom admitir, ainda em tempo: sou bem melhor com música e barulho. O mesmo silêncio que me acanha me torna uma escritora medíocre.

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