segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mais estranho que a ficção - a vida que pode acabar amanhã



Eu achava que já tinha assistido "Mais estranho que a ficção", mas não. Provavelmente é um dos tantos que comecei e parei, aluguei e devolvi com atraso na locadora, pagando 30 reais por 17 minutos de um filme que não vi.

Mas hoje eu vi. Na última vez que comecei e parei tive ótimas ideias pra escrever livros. Que talvez nunca escreva, também. Hoje não tive, mas pensei: e se eu soubesse quando minha morte seria, ficaria preocupada e iria mudar algo? Quer dizer, saber que vai morrer, bem, todos sabemos. Mas é como se fosse algo que estivesse sempre distante e no qual não é preciso pensar. Bem, a morte é sempre com o outro, até que aconteça com você. E na hora que acontecer talvez você não tenha essa consciência, então, tudo bem.

E o que eu ia dizer é que o personagem do filme de repente se depara com a certeza de que a qualquer momento, muito em breve, vai acontecer sua morte. E ele diz "não, não posso morrer agora". Claro que é no momento em que a vida dele começa a ser boa, em que ele se apaixona de verdade e descobre a alegria de comer um biscoito com um copo de leite.

O filme tem ótimos momentos de comédia irônica, humor negro bem criado em que não se sabe bem a diferença entre o riso do absurdo e o drama. É ótimo. E tem a parte em que o Dustin Hoffman olha pro personagem e diz: você tem de morrer. Os grandes heróis sempre morrem, mas as suas histórias sobrevivem. Ele quer dizer que é justamente na morte que a vida ganha destaque. Que sem ela nenhum história seria grande. Que é o contraponto de toda narrativa.

Bem, no filme o Will Ferrel se descobre personagem de um livro que está sendo escrito e se dá conta que a escritora pretende matá-lo. Ele vai ouvindo sua rotina sendo narrada, dia a dia, e então a história do filme se desenrola.

Então o que me ocorreu foi, claro, clichê dos clichês: se houvesse a certeza de que amanhã você morreria atropelado por uma moto às 10h14, na frente da padaria... E então? Ou que seria na semana que vem, por uma reação a um medicamento aleatório, enquanto vai ao banheiro lavar as mãos. Ou que seria daqui a um mês, em um tumulto no meio de um show. E então?

A certeza da morte todos têm, mas a gente vai ignorando um pouquinho todo dia até que ela passe a ser um elemento estranho: oh, a morte. E assim vamos, até o dia surpresa, a hora surpresa. E todos lamentam. Tão cedo, tão jovem, tão feliz, tão bonita, tão recém promovida, ainda ia ter filhos, o neto acabou de nascer, estava concluindo o doutorado, acabara de se apaixonar aos 76 anos.

Eu gosto do final, gosto da descrição dos detalhes que podem mudar tudo em uma vida, que podem salvar ou matar alguém a qualquer momento.

Aqui tem a música Whole wide World, parte de uma cena muito bonita no filme.



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