terça-feira, 4 de setembro de 2012

Todos suicida, mas antes posta foto no Instagram



 Eu tinha dezesseis anos quando comecei a usar a internet de verdade, com a conexão discada que só era acessada nos dias úteis depois da meia noite - torcendo pra não cair senão teria de pagar mais um pulso na conta telefônica. E aos sábados, depois das 14 horas, até alguém me tirar do computador no domingo, depois do Fantástico.

Ainda estava na escola, época de vestibular, espinhas, festinhas de colegas, primeiros namoros. Também criei o meu primeiro blog, ainda mais bobo que esse, onde escrevia louca e diariamente. Por ele fiz amigos, conheci pessoas de cantos diferentes do Brasil, até comecei um quase namoro.

Com o ICQ entrei pro mundo dos amigos que conversam online. Esperava ansiosamente o barulhinho de um novo recado das pessoas que me eram importantes. Tinha um recurso muito bacana que era a conversa em grupo em tempo real, com todos escrevendo ao mesmo tempo, cada um no seu quadrado. Gostava.

Quando criei um perfil no Orkut, meio resistente ainda, já estava para entrar na faculdade ou no primeiro ano dela. Lá, uau, se podia deixar recados públicos, dizer o que pensava pelas comunidades, dizer quem era pelas descrições, procurar velhos conhecidos, publicar fotos divertidas, tanta coisa...

E lá estava eu, já com internet banda larga, montando meu álbum, trocando mensagens com amigos. Até cyberbulling eu já fiz, quando, no segundo ano da faculdade, me pus a pesquisar os futuros calouros pelo Orkut. Com amigos, ficava mandando recados no mural de desconhecidos que viriam a ser meus colegas logo logo. Tirava sarro, entupia de scraps o mural alheio, pentelhava mesmo. Não me orgulho, mas foi assim mesmo.

Então o Orkut deixou de ser interessante. Um dia se decidiu que ele estava "popular demais". As tias, que antes só mandavam ppt´s por email, começaram a mandar recados coloridos e piscantes nos murais do mundo todo. As correntes da ajuda ou maldição também migraram, assim como os vírus. Mas ainda era divertido pesquisar comunidades de downloads de filmes ou músicas. Dava pra fazer amigos pelo Orkut, discutir temas interessantes sem tanta baixaria nos comentários. Era um mundo mais civilizado, com pessoas se dispondo a falar sobre os temas em lugares criados para aquilo. Assim como acontece ainda hoje nos grupos de e-mail ou outras comunidades virtuais. Também não havia tanto controle sobre o conteúdo.

E lá veio o Facebook, onde, oh, tudo parecia mais interessante. A parte visual, os recursos, o modo de interagir com outras pessoas e, sim, até as pessoas estavam diferentes. Elas haviam aprendido o que não se deve fazer - menos as tias e seus gifs piscantes, que logo descobririam o maravilhoso mundo de uma nova rede social.

E todos abandoram o Orkut. Todos? Leia-se todos do meu círculo de convivência. Ele ganhou status de coisa velha, brega e fora de época. Ainda mantenho minha conta, mas não consigo ficar mais de cinco minutos logada. Sabe como é, gifs, recados coloridos, etc..

Criei meu perfil no Facebook, uma das últimas entre tantos amigos que já estavam se divertindo por lá. Sim, eu também me diverti. Primeiro descobrindo o que dava para fazer. Depois me irritei até entender como preservar minha pretensa privacidade. Depois vi que até isso era só um discurso que não se sustenta mais. Então vieram os aplicativos, os joguinhos, as mil e uma forma de interação. E, claro, as tias dos gifs piscantes, que agora gostam das imagens com frases feitas.

Ainda é um mundo novo, há tanta coisa pra se descobrir em termos de interação em redes sociais, eu sei. O Twitter, por exemplo, apesar de ter perdido muitos de seus usuários, ainda me chama atenção. De alguma forma sinto que o conteúdo que vejo por lá é mais relevante do que o do Facebook. Sim, são redes diferentes, com propósitos diferentes.

Talvez eu tenha me cansado de acompanhar a vida alheia. E o mundo sempre foi assim, desde quando colocávamos cadeiras nas calçadas pra conversar com os vizinhos, quando as ruas não eram perigosas. Hoje os vizinhos estão em suas salas, com seus rostos iluminados por telas azuis, publicando fotos de filhos e netos e curtindo frases feitas.

Posso ter cansado de me expor. O que é ridículo, já que eu mesma posso controlar o que publico ou não. Mas, assim como faço no blog, faço nas redes sociais: não diferencio o que devo ou não, o que pode ser ruim pra mim ou não. Eu acho interessante e falo, posto, publico, indico. Se vai me fazer feliz,ou a outra pessoa, publico.

Percebo que passo mais tempo rolando a bolinha do mouse óptico pra baixo, à procura de conteúdo relevante, do que lendo ou comentando publicações alheias. E pensando: sério??

E mesmo meus comentários já não acrescentam nada de tão importante à vida de qualquer pessoa. Parece que o que precisava ser dito ou feito, já foi. Sim, pode ser só ilusão, ideia absurda, mas é o que tem me ocorrido.

É como se estivéssemos parados no tempo, nos repetindo todos os dias. E ficando mais cínicos e tristes e irritados ao ver as mesmas coisas, as mesmas coisas, sem sair do lugar ou conseguir fazer algo para mudar a realidade.

O que eu gosto no Facebook tem um peso menor do que o tempo que eu perco publicando e publicando e comentando e lendo publicações e vendo fotos com filtros de imagem à lá Instagram.

De repente eu só preciso de uma férias da conexão intermitente. Voltar a ser produtiva, artística ou qualquer coisa que o valha. Qualquer coisa que não me faça sentir que deixo preciosos segundos escaparem a cada vez que digito três ou quatro palavras para três ou quatro pessoas que pensam a mesma coisa que penso, mas que não terão suas vidas alteradas simplesmente porque eu as disse.

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