Perder o sentimento é assim: de se fazer todo dia as coisas da vida, ele vai embora. Mas não é um sujeito ativo, é passivo: a gente é que deixa ele ir embora. Porque tem preguiça de cultiva, cavar, regar.
Eu perco o meu sentimento - e nem é por pessoas - assim, por displiscência. Aquela coisa da vida ser bonita. Não basta ser bonita, tem de emocionar.
Sou bastante ligada a espiritualidade e músicas de meditação sempre mexeram comigo de maneira positiva. Dia desses coloquei uma delas e... não senti absolutamente nada. Foi como se existisse só um vazio, um vazio que não se incomodou com nenhuma nota, que não sentiu calor ou frio, que não se deu ao trabalho de olhar pra fora pra ver se havia um mundo girando. Foi bem estranho. E passou.
Eu fico bem contente quando algo consegue me trazer de novo um sentimento genuíno, forte, dos que comovem e fazem perceber que é importante sim ser tocada lá na alma. Tem pessoas que conseguem fazer isso e sou grata por encontrá-las pela vida afora. Mas também tem músicas e livros e cenários e comidas e filmes que me dizem: ei, sente, é vida!
(E um filme acabou de fazer isso comigo. O nome é Léo e Bia, foi dirigido pelo Oswaldo Montenengro e conta a história de um grupo de amigos que fazia teatro nos anos 70, em Brasília. Um roteiro como outro qualquer, mas com poesia, música, sentimento.)
Mas é preciso estar aberto a isso: buscar o que se quer sentir. Eu acabo deixando de lado, precoupada com o hoje, o ontem e o amanhã, brigando com pensamentos desalinhados e tentando fazer das vozes interiores um coro harmonioso (quando não passam de um grupo revoltado em pleno protesto na Avenida Paulista).
É esse sentimento - que volta e meia perco - que me conduz a lutar pelo que desejo, a ver lá dentro o que é real e o que é projeção, o que é importante e o que não passa de uma unha lascada. E preciso disso todos os dias porque no intervalo de tempo em que não tenho isso o tempo nem passa direito, fica só se enrolando, em círculos, com dois palitinhos malucos dando voltas num prato vazio.
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